Fortaleza já vive um surto de febre chikungunya, segundo
o gerente da Célula de Vigilância Ambiental e Riscos Biológicos da Secretaria
Municipal de Saúde (SMS), Nélio Morais. De acordo com o último boletim da
Pasta, divulgado no último dia 20 de maio, a Capital contabiliza, até o
momento, 800 casos confirmados da doença e investiga outras 913 suspeitas. No
total, somente em 2016, 2.128 casos da doença foram notificados ao Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
O relatório também destaca que existem outros 900 prováveis
casos de chikungunya diagnosticados nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs),
mas que ainda não foram digitados no sistema federal. Dos casos confirmados,
720 são autóctones, ou seja, cuja transmissão começou dentro do território
municipal.
Outras 37 confirmações foram importadas de outras
localidades e a origem de mais 43 ainda está sendo investigada. Na avaliação do
órgão, os números de 2016 sugerem que Fortaleza passa por uma fase de transição
entre o cenário de importação para o de "transmissão autóctone
sustentada".
Conforme Nélio Morais, até 2014, a Capital registrava apenas
casos importados e passou a apresentar ocorrências dentro do próprio município
em 2015. Neste ano, já verificou-se a instalação da enfermidade em cerca de 90
bairros da cidade.
Combate
Para o gerente, a contaminação tende a se manter ou pode
apresentar um aumento progressivo, uma vez que maio é considerado um mês
crucial por, historicamente, registrar crescimento no número de casos de
dengue. Como zika, chikungunya e dengue possuem o mesmo vetor, o mosquito Aedes
aegypti, o combate vem sendo intensificado.
"Nós já estamos notificando uma estabilidade no número
de casos, mas o trabalho continua para que situações de epidemia observadas em
cidades da Bahia e de Pernambuco sejam evitadas aqui. Inclusive, já houve até
registro de óbitos em municípios baianos", informa Nélio. A Secretaria
Municipal de Saúde volta as atenções para as áreas mais vulneráveis à
ocorrência da doença, notadamente as Regionais I e III, que apresentaram o
maior número de casos confirmados neste ano.
O combate ao Aedes aegypti, dentro das metas estabelecidas
no "Plano dos 45 dias", como foi chamada a articulação entre diversos
órgãos públicos da Capital, tem sido realizado com pulverizações de inseticidas
por carros fumacê da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), com o controle
químico feito por agentes com bombas costais e por meio de visitas mais
frequentes aos imóveis daquelas áreas. As ações estratégicas começaram na
última segunda-feira (16) e se estenderão até o dia 30 de junho.
Além da Vila Ellery, que registra 102 casos confirmados, o
Montese, com 71 confirmações, é o bairro que mais preocupa a coordenação do
plano. "O Montese é um bairro comercial, para onde vão pessoas de todas as
áreas da cidade. Ou se leva a chikungunya para lá, ou se pega lá e se leva para
outro bairro", explica Nélio. Para o gestor, a atenção deve ser redobrada
porque Fortaleza ainda não tem experiência com a doença.
De acordo com as informações da Sesa, a instabilidade
climática verificada nos primeiros quatro meses do ano, com a elevação da
temperatura e a intensificação das chuvas, favorece a eclosão dos ovos do
mosquito. Para o infectologista Anastácio Queiroz, a transmissão autóctone da
febre chikungunya em Fortaleza preocupa porque demonstra a dificuldade em se
controlar o vetor. Focos de água parada não eliminados, como pneus, vasos e
garrafas plásticas persistem no cenário urbano e contribuem para o agravo da
situação na saúde pública.
Conforme o especialista, estudos mostram que, enquanto 80%
das contaminações pelo zika vírus e menos de 50% pelo vírus da dengue não
apresentam sintomas, o vírus Chik é majoritariamente sintomático. Os indícios
incluem febre alta, dores nas articulações do corpo e sintomas de comprometimento
geral do organismo, como dores de cabeça e nos músculos. Os idosos com mais de
65 anos, por já possuírem problemas dessa natureza, apresentam quadros mais
severos.
O tratamento da febre chikungunya é pontual e focado em suas
manifestações clínicas. Embora outros sintomas durem menos tempo, persistem as
dores nas mãos, nos pés, nos quadris e na cervical, bem como em outros grupos
articulares. Segundo Anastácio, na literatura médica, existem relatos de
pessoas que permaneceram até seis meses com o transtorno.
Além disso, conforme o médico, casos graves da doença podem
gerar complicações neurológicas, levar à infecção cerebral grave (encefalite) e
causar até mesmo a morte, que acomete um em cada 1.000 pacientes
diagnosticados.
Dengue
Até o dia 20 de maio, foram notificados na Capital 12. 310
casos da doença ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Destes, 3.512 tiveram confirmação e outros 5.616 são suspeitas sob
investigação. Oito óbitos pela doença também estão sendo averiguados.
(Colaborou Nicolas Paulino)
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