Profundo conhecedor do mundo político e das obras públicas,
o ex-presidente da Transpetro e delator da Lava Jato Sérgio Machado disse aos
investigadores que a Petrobrás, que está no centro das investigações do
Ministério Público Federal, é “a madame mais honesta dos cabarés do Brasil”,
por ser ‘um organismo estatal bastante regulamentado e disciplinado’ e disse
que outras empresas e órgãos públicos adotam práticas “menos ortodoxas”, em
referência ao pagamento de propinas envolvendo empresas privadas e o setor
público.
Dentre os outros órgãos que ele cita estão o DNIT, as
companhias Docas, os bancos oficiais “tais como Banco do Nordeste, Funasa, FNDE
e DNOCS”. Ainda segundo o delator, que ficou 11 anos à frente da Transpetro,
desde 1946 “havia um padrão segundo o qual os empresários moldavam seus
orçamentos com incorporação do conceito de ‘custo político’”, que englobaria o
porcentual dos contratos com o poder público destinado a propinas em todas as
esferas: federal, estadual e municipal. De acordo com Machado, este padrão
seria de 3% no governo federal, 5 a 10% nos governos estaduais e de 10 a 30%
nas contratações envolvendo municípios.
Nos últimos anos, porém, políticos de todos os níveis da
administração no País teriam extrapolado este ‘padrão’ , ‘envolvendo a
estrutura das empresas estatais e dos órgãos públicos, o que antes não
acontecia’, afirmou o delator, que disse ainda ter mantido na Transpetro o
‘modelo tradicional’.
O próprio Machado admite que ele era o único na estatal a
tratar de propinas e que só tratava disso com presidentes de empresas e
políticos, sem envolver outro funcionário da Transpetro. Ele afirmou ainda que
não havia cartel nem fraude nas licitações da estatal. O esquema, segundo
explicou, consistia em não fazer novos contratos com empresas que não pagassem
as propinas ou mesmo excluí-las da lista de companhias que poderiam ser contratadas
pela estatal, uma prerrogativa que Machado detinha em seu cargo.
Em mais de dois anos de investigações, a Lava Jato revelou
um megaesquema de corrupção na Petrobrás a partir do loteamento político das
diretorias para direcionar propinas a partidos e políticos a partir de
contratos da maior estatal brasileira. Com o avanço da operação, o Ministério
Público Federal revelou que modelos semelhantes de corrupção foram adotados em
subsidiárias da estatal, como a própria Transpetro, e também em outros setores
da administração, como no setor de energia e no de ferrovias.
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