Durante o período de isolamento social mais rigoroso, em
abril, 428 acidentes foram registrados na Capital. Em junho, quando teve início
a retomada econômica, a quantidade aumentou para 652, conforme dados da AMC.
Por Alexia Vieira e Barbara Câmara
Paralelamente ao aumento no volume de veículos e pedestres
nas ruas, após a flexibilização do isolamento social, o número de acidentes de
trânsito voltou a subir em Fortaleza. De acordo com a Autarquia Municipal de
Trânsito e Cidadania (AMC), no mês de junho, quando o plano de retomada
econômica começou a ser implementado, a quantidade de sinistros teve um aumento
de 52,3% se comparado a abril.
Quando o distanciamento era mais rígido e mais pessoas
optavam por ficar em casa para evitar o contato com o coronavírus, 428
acidentes foram registrados na Capital. Já em junho, este número subiu para
652.
O crescimento na quantidade de colisões, para o professor de
engenharia de transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC) Flávio Cunto
“os acidentes tendem a ser proporcionais ao fluxo veicular. A redução dos
acidentes que ocorreu é um reflexo da diminuição da atividade nas ruas, não
porque as ruas ficaram mais seguras”. Ele avalia que a tendência é de que os
índices voltem a se aproximar aos dados observados antes do período de
pandemia.
No entanto, Dante Rosado, coordenador executivo da
Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito, afirma que os números
podem chegar a um patamar ainda maior do que os níveis pré-pandêmicos.
Para ele, a tendência de migração para o transporte
individual, principalmente para as motos, que são mais baratas, é capaz de
elevar a quantidade de acidentes. Ele reconhece a necessidade de monitoramento
nesta fase de retomada do trânsito.
Caso essa tendência se confirme, motivada pelo medo de
contágio dentro dos espaços lotados e pequenos de transportes coletivos, Flávio
explica que é possível uma mudança na distribuição do fluxo e na frequência dos
acidentes.
Acidentes com vítimas
A quantidade de ocorrências com vítimas também cresceu na
comparação mensal. Em abril, a Autarquia registrou 267 acidentes com vítimas na
Capital; já em junho, foram 395 — aproximadamente 47% a mais.
A empresária Paula Mello, de 45 anos destaca que, embora o
acesso às vias tenha se tornado mais rápido, não pôde vivenciar a “calmaria”
esperada. Ela abriu uma empresa de delivery durante a pandemia, e, há três
semanas, sofreu um acidente a caminho de uma entrega.
“Dois carros pararam na minha frente, e, para não ficar
atrás deles, liguei a seta para a esquerda. Olhei pelo retrovisor e não vinha
ninguém. Quando acelerei, não andei nem um metro e meio. Um carro veio por trás
e me pegou pelo lado esquerdo, bati meu rosto na porta traseira, e ele
arrancou. Perdi o controle da moto, caí no chão. Felizmente quebrou só o
descanso do pedal, e eu me ralei”, conta.
Estresse
A mudança no fluxo de veículos combinada com o estresse
pessoal da vida de cidadãos atingidos pela pandemia, tanto pela doença quanto
pelas consequências econômicas, também pode indicar um comprometimento das
interações no trânsito, segundo Flávio Cunto.
“Isso faz com que a gente traga para o trânsito um conjunto
de pessoas que tem um nível de estresse muito maior. E o nível de estresse não
significa maior agressividade, mas significa maior falta de atenção em alguns
momentos”.
“A segurança viária se torna importante neste momento porque
é um problema de saúde pública, assim como a Covid-19. Neste momento, a maior
parte dos recursos da rede hospitalar deve estar sendo direcionado para a
questão de tratamento da Covid, da pandemia. Então qualquer outra causa que
venha a competir com isso, não é interessante”, opina Dante.
Por isso, Cunto também acredita sejam necessárias campanhas
de conscientização voltadas para o momento de retomada do trânsito. O retorno
ao fluxo normal precisa ser harmônico para “não superlotar hospitais de
emergência com acidentes de trânsito”, frisa.
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