Aglomerações na faixa de areia e barracas de praia preocupam
especialistas pelo risco de transmissão do novo coronavírus.
O Ceará já ultrapassou a triste marca de 197 mil casos de
Covid-19 e 8.133 vidas por conta do novo coronavírus, segundo dados da
Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Apesar disso, o fim de semana foi
movimentado nas praias do litoral cearense, com registros de desrespeito ao
isolamento social e à obrigatoriedade do uso de máscaras.
Neste domingo (16), o G1 esteve em três barracas na praia do
Cumbuco, em Caucaia, na Grande Fortaleza. Em todos os locais, a reportagem
flagrou cenas de aglomeração e desrespeito ao uso de máscaras. O equipamento de
proteção é obrigatório por Lei estadual, que prevê multa de até R$ 1 mil por
descumprimento. Também foi possível observar a ausência de distanciamento entre
mesas.
Em nenhum dos estabelecimentos foi observada fiscalização de
agentes da Prefeitura de Caucaia. O G1 entrou em contato pedindo esclarecimentos,
por e-mail, na tarde deste domingo, mas não houve retorno.
O desrespeito às regras de segurança sanitária são encaradas
com preocupação. O infectologista Roberto da Justa explicou, em entrevista
concedida ao G1 em julho, que toda atividade ao ar livre é caracterizada como
de risco menor. “Mas, se for uma praia com aglomeração, por exemplo, secreções
podem ser transmitidas entre pessoas que estão próximas”, esclarece.
Show e lotação
Na Kitecabana Lounge, em Caucaia, a reportagem flagrou,
ainda, uma apresentação musical com banda. A apresentação foi divulgada também
nas redes sociais. Apesar disso, o local foi o único, entre os visitados pelo
G1, que apresentava sinalização de orientações sobre o distanciamento social,
além de um totem com álcool em gel. Os funcionários do estabelecimento
utilizavam ‘face shields' de acrílico.
A reportagem tentou falar com a administração da barraca,
por telefone, na noite deste domingo (16), mas não houve retorno.
Na barraca Duro Beach, também houve aglomeração e clientes
sem máscara. Ao G1, a empresa informou que não consegue obrigar o uso do
equipamento de proteção entre os frequentadores. O estabelecimento disse,
ainda, que não autoriza a entrada de clientes após lotação e que há
sinalizações de espaçamento entre os bancos comunitários. Sobre as máscaras,
disse que, “infelizmente, algumas pessoas não respeitam e reclamam que não
querem ficar com marcas do sol”.
Na barraca Chico do Caranguejo Cumbuco, foram observados
pontos de aglomeração entre as mesas e poucas pessoas usando máscaras. O G1
tentou contato com representantes do estabelecimento por telefone, mas as
ligações caíram na caixa de mensagens.
Fortaleza
Em Fortaleza, a reportagem visitou a Praia dos Crush, na
Avenida Beira-Mar, também na tarde deste domingo, onde foi possível flagrar a
ausência de distanciamento social e pessoas sem máscara.
'Praia dos Crush' registra pontos de aglomeração neste
domingo. — Foto: Helene Santos
'Praia dos Crush' registra pontos de aglomeração neste
domingo. — Foto: Helene Santos
A Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) informou que
reforçou a atuação na região, desde a sexta-feira (15). “Com monitoramentos
contínuos para evitar aglomerações, orientando os permissionários a cumprirem
as recomendações de não ocuparem a faixa de areia com mesas, cadeiras e
guarda-sóis”, ressaltou o órgão.
A Agefis afirmou que a população também foi abordada para a
distribuição de máscaras de tecido e álcool em gel 70%. A Polícia Militar do
Ceará informou, por sua vez, que o local “apresentou movimento normal de
pessoas, não caracterizando aglomeração”.
Interior
O desrespeito às regras de prevenção também foi registrado
em praias de outras regiões do estado. Em Jijoca de Jericoacoara, no litoral
oeste do Ceará, as maiores movimentações aconteceram na praia principal e em
estabelecimentos da vila de Jericoacoara. Os locais são importantes pontos
turísticos da região. “Jeri foi reaberta, mas falta fiscalização. Vemos muita
aglomeração e todo mundo sem máscara”, destaca uma moradora, que preferiu não
se identificar.
Segundo boletim da Prefeitura de Jijoca, a cidade registra
769 casos confirmados e nove óbitos por conta da doença. No dia 8 deste mês, a
Vila de Jericoacoara e o Parque Nacional (Parna) de Jericoacoara foram
autorizados a receber visitantes novamente, mas o fluxo foi baixo nos primeiros
após a liberação.
“Neste fim de semana, abriu muita coisa e decidiram validar
a abertura das Caipirinhas. São 15 barracas para 2 mil pessoas. Este espaço
naturalmente aglomera”, afirmou uma moradora.
O presidente do Conselho de Empresários de Jericoacoara
(CEJ), Oswaldo Leal, ressalta que as empresas sócias estão seguindo os
protocolos de segurança recomendados, mas falta fiscalização. “Quem tem que
fazer o acompanhamento é a prefeitura. Fiscais deveriam estar na entrada dos
restaurantes notificando e informando os visitantes, mas não existem fiscais
disponíveis”, ressalta.
Em Beberibe, outra região que recebe muitos visitantes no
estado, moradores denunciam aglomerações e desrespeito à obrigatoriedade do uso
de máscaras. Um dos moradores, que também não quis se identificar, diz que o
fluxo de visitantes aumentou nas últimas semanas. “O isolamento social
praticamente acabou. Embora estejamos funcionando conforme as fases do governo
do estado, as pessoas não estão nem aí para as orientações sanitárias”, avalia.
Beberibe registra 708 casos confirmados do novo coronavírus
e 28 óbitos, segundo o IntegraSUS
O G1 tentou contato com as prefeituras de Jijoca de
Jericoacoara e Beberibe, neste domingo, mas não responderam até a publicação
desta matéria. A Polícia Militar, no entanto, informou, em nota, que esteve
presente “nas praias de Beberibe, Cumbuco e Jericoacoara”, realizando “ações de
fiscalizações em cumprimento ao Decreto Estadual vigente”.
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