Projeção do Infogripe busca compensar o atraso na
atualização dos dados. Esta semana, governo do RJ anunciou o fechamento dos
hospitais de campanha, alegando não acreditar em uma segunda onda.
Por Eduardo Pierre, G1 Rio
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta para uma possível
segunda onda de Covid-19 nos estados do Rio de Janeiro, Ceará e Maranhão. O
prognóstico consta de um boletim divulgado nesta quinta-feira (30) pelo
Infogripe, o sistema que monitora a ocorrência da síndrome respiratória aguda
grave (SRAG) no país.
Novo coronavírus pode ter ficado por até 70 anos em
circulação silenciosa entre os morcegos, aponta estudo
Nesses três estados, um pico de casos foi registrado na
primeira quinzena de maio. Em junho, houve quedas seguidas, mas, no fim de
julho, segundo as estimativas, a curva tornou a subir — ainda que em um patamar
bem abaixo do de dois meses atrás.
Nesta quarta-feira (29), o secretário estadual de Saúde do
RJ, Alex Bousquet, anunciou a intenção de fechar, até o dia 12, todos os
hospitais de campanha sob gestão do estado. O argumento de Bousquet é “uma
queda confiável” nos casos.
Uma decisão da Justiça impede a desmobilização, mas o estado
anunciou um recurso.
“Nossa argumentação será técnica. Nós tivemos um pico nas
duas primeiras semanas de maio e, de lá para cá, nós temos uma curva
descendente que já se mostrou confiável”, argumentou Bousquet.
Ambulância entra no Hospital de Campanha do Maracanã:
unidade marcada para fechar — Foto: Reprodução/TV Globo
Ambulância entra no Hospital de Campanha do Maracanã:
unidade marcada para fechar — Foto: Reprodução/TV Globo
Brasil em um ‘platô’
Já a projeção para todo o Brasil, segundo o pesquisador e
coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, “indica que não estamos numa situação
tranquila”.
“Estamos com uma estimativa de que o número de novos casos
semanais pode estar acima do primeiro pico, registrado em maio”, afirmou Gomes.
Cada infectado passou Covid para 3 pessoas no início da
pandemia no Brasil
'Mesmo a gente usando tudo o que sabe, eles morrem muito
rápido', relata médica
Veja as mortes de coronavírus em sua cidade
A curva do Brasil é diferente da do RJ. Em vez de um pico e
uma subsequente queda — com sinal de retomada no crescimento —, há uma
oscilação num platô, com tendência de aumento.
Como o Infogripe funciona
Nem toda SRAG é Covid-19, apesar dos sintomas em comum. Mas,
nesta pandemia, explicou Gomes, a síndrome “está extremamente ligada” ao novo
coronavírus.
A Fiocruz tabula os registros de SRAG em todo o país e faz
projeções com base no comportamento da curva — compensando a desatualização dos
dados.
Para a Fiocruz, é importante saber quando o paciente começou
a sentir os sintomas.
“Mas existe um atraso muito grande na entrada das
informações”, afirmou o pesquisador.
Essa demora, explica Gomes, dificulta análises mais
precisas.
“Por isso que tem divergência. Se a gente olha só para os
dados inseridos ontem, a nossa capacidade de fazer análise de situação atual
será extremamente limitada. O dado só vai estar mais próximo do que de fato
aconteceu daqui a várias semanas depois”, detalhou.
Gomes citou o exemplo da semana epidemiológica 17,
equivalente ao dia 25 de abril.
Pelos dados digitados até 25 de abril, 951 pessoas começaram
a ter SRAG naquela semana.
Na parcial de 9 de maio (semana 19), já eram 1.535 pacientes
com SRAG na semana 17.
Em 23 de maio (semana 21), esse número subiu para 2.125.
E nos dados do dia 25 de julho (semana 30), o total de
doentes era de 2.968.
Ou seja, o número de pacientes com SRAG segundo o boletim
daquela semana era um terço do real — observado três meses depois.
Mas, na própria semana 17, o InfoGripe já estimava 2.302
casos.
“Esse mesmo modelo estatístico hoje está apontando que pode
sim, estamos em uma fase de retomada do crescimento. Mesmo com margem de erro,
ou estamos em estabilização ou retomada”, afirmou Gomes.
“Tivemos no RJ uma redução da ordem de 60%, uma queda
sustentada, mas os dados mais recentes sugerem essa retomada. Começando a forma
um ‘U’, um indício de segunda onda”, explicou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário