Sucateamento das estruturas, avanço desordenado de barracas
e efetivo insuficiente são principais denúncias de profissionais de salvamento
aquático da cidade.
Serviço essencial para proteger fortalezenses e turistas, o
monitoramento das praias da cidade por guarda-vidas está comprometido por baixo
efetivo e sucateamento de estruturas, segundo denunciam, respectivamente,
agentes da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) e do Corpo de Bombeiros Militar
do Ceará (CBMCE).
Na Praia do Futuro, o problema é estrutural: as torres de
observação estão desgastadas pela ação da maresia e pela falta de manutenção.
Estruturas corroídas por ferrugem, escadas com degraus incompletos e peças de
madeira arrancadas completam o cenário de abandono.
O dever de salvaguardar banhistas em um dos mais importantes
pontos turísticos da capital cearense é de 93 agentes do Corpo de Bombeiros
Militar (CBMCE), distribuídos em dez postos. Segundo o comandante da 1ª
Companhia de Salvamento Marítimo, major Chailon Fonteles, as torres de
observação “já estão inviáveis para trabalho”.
“As torres foram feitas há quase 20 anos, não são adequadas,
já foram engolidas pelas barracas e pelos coqueiros. São muito altas, a escada
é escondida, de modo que o guarda-vida perde a visão do afogado ao descer.
Estamos batalhando para que, em dezembro, na Operação de Férias, novas torres,
mais baixas, já estejam instaladas”, estima.
Entre 2017 e o último setembro, 1.180 pessoas foram
resgatadas de afogamentos na Praia do Futuro, de acordo com o CBMCE. Foram 217
neste ano, 398 em 2018 e 565 no ano anterior.
Lado oposto
Do outro lado da cidade, no Litoral Oeste, os resgates são
tarefa da Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA) da Guarda Municipal. São dois
postos, cada um com dois guarda-vidas, para supervisionar toda a extensão da
Praia da Barra do Ceará, periferia da cidade. Na Praia da Leste-Oeste, também
periférica, não há nenhum. No Aterro da Praia de Iracema, já na região nobre da
orla, fica o terceiro posto de observação marítima, seguido de outros quatro ao
longo da Avenida Beira Mar.
Um dos profissionais relatou ao G1 que os sete postos de
competência municipal se distribuem em 12km de praia – e nem sempre há guardas
lotados neles. “Tem alguns fechados, porque o número de profissionais é
insuficiente, não tem efetivo. E aqui é uma área onde acontecem muitos
afogamentos. Nas torres não dão manutenção nenhuma: o teto de uma caiu e a
gente teve que ajeitar”, descreveu o agente, que preferiu não se identificar
por temer represálias da própria instituição.
Outro guarda da GMF reforça as reclamações, e diz ainda que
“15 integrantes da inspetoria, cujo pelotão já estava pequeno, foram retirados
da praia, deixando a área descoberta”.
“Às vezes, um guarda sozinho consegue dar conta, mas com
ajuda de um surfista ou outro banhista. Só que isso é um perigo grande, porque
sem preparo, o ajudante pode se tornar outra vítima. E se atender afogamento
com uma pessoa já é difícil, se for duplo ou triplo se torna quase impossível”,
avalia.
Em nota, a GMF garante que “a ISA atua com uma média de dois
guardas por posto, para garantir a segurança dos banhistas na área compreendida
entre a Barra do Ceará e a Praia do Náutico, no horário de 9h às 17h”. Com
relação aos 15 guardas retirados das atividades na orla, a Guarda esclarece que
“estão participando, temporariamente, de um novo curso de capacitação”, mas não
informa se retornarão ao litoral.
O total de profissionais que compõem o efetivo de salvamento
municipal também não foi informado. Segundo a GMF, mais de 170 atendimentos de
afogamentos sem vítimas mortas foram realizados de janeiro a julho de 2019, nos
trechos de praias pelos quais a ISA é responsável. Ano passado, foram 400
resgates.
O G1 solicitou à Secretaria de Segurança Pública e Defesa
Social do Ceará (SSPDS) o número de óbitos por afogamento na orla de Fortaleza
nos últimos três anos, mas os dados não foram respondidos até a publicação
desta reportagem.
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