Pesquisa revela que 48% dos estudantes de Fortaleza se
sentem inseguros dentro da escola.
Por Yohana Capibaribe e Nícolas Paulino, G1 CE
Os cabelos cacheados de Maria Eduarda, 12, tornaram-se lisos
quando a menina tinha ainda quatro anos. A mudança, segundo a mãe, Neurilane
Sampaio, foi uma forma de apaziguar as chacotas que faziam com a garota no
ambiente escolar. "Ela chegava em casa chorando porque as meninas ficavam
brincando com ela, diziam que ela tinha cabelo ruim", desabafa a mãe.
Maria Eduarda sofreu agressões verbais e físicas em escolas de Fortaleza.
"Em casa, a gente dizia que o cabelo dela era bonito,
mas na idade dela conta muito ir para o colégio, e as crianças ficarem falando
mal", conta Neurilane. Como a garota, quase metade (48%) dos estudantes da
capital cearense não se sentem protegidos dentro da escola, de acordo com a
pesquisa Infância [Des]Protegida, da organização não governamental (ONG) Visão
Mundial.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação de
Fortaleza (SME), responsável pelos alunos até o 9º ano, informou que promove
uma política de proteção à criança e ao adolescente por meio do trabalho da
Célula de Mediação Social e Cultura de Paz da SME.
O grupo atua no fortalecimento da escola para a resolução de
conflitos e pela disseminação da cultura de paz. Conforme a SME, o trabalho
preventivo é realizado com a Célula de Segurança Escolar, que atua em ação conjunta
com a Inspetoria de Segurança Escolar da Guarda Municipal (ISE) e a Secretaria
Municipal da Segurança Cidadã.
O estudo da Visão Mundial revela que, quanto maior a idade,
menor é a chance de os jovens se sentirem seguros. A pesquisa foi realizada com
3.814 estudantes de 9 a 17 anos, do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental, em 67
escolas de ensino público de Fortaleza, Salvador, Recife; Nova Iguaçu (RJ);
Canapi e Inhapi (AL); e Governador Dix-Sept Rosado (RN).
Índice maior entre crianças negras
O levantamento mostra também que um em cada três estudantes
relatou situações em que sofreu violência direta ou consequência da violência
urbana: 84% presenciam brigas entre alunos e 33% sofrem ameaças, abuso físico
ou xingamentos na escola. Entre crianças e adolescentes negros, este último
índice sobre para 37%.
Neurilane conta que mesmo após alisar o cabelo da filha, as
brincadeiras não pararam. "Ela estava se sentindo melhor, bonita, mas o
bullying continuou. Diziam que o cabelo dela era alisado à força, que a pele
dela era feia."
Há um ano, a família de Maria Eduarda foi para a Região
Metropolitana de Fortaleza. Em 18 de junho, a menina foi agredida por um menino
com socos e puxões de cabelo em frente à escola Adauto Ferreira Lima, no
Maracanaú.
A mãe de Maria Eduarda procurou a coordenação da escola em
busca de garantir a segurança da filha. Um boletim de ocorrência por agressão
corporal dolosa foi registrado na Delegacia Metropolitana de Maracanaú.
Conforme a mãe, a menina ainda está assustada e não quer sair mais de casa.
Segundo Karina Lira, assessora de proteção infantil da Visão
Mundial, a violência pode levar ao baixo desempenho escolar e à desmotivação da
permanência na escola. Na dimensão da saúde mental, os jovens podem desenvolver
depressão e dificuldade de estabelecer vínculos sociais e afetivos. Há
preocupação ainda com propensão à agressividade e drogadição. "É um
impacto global", lamenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário