Vítima das complicações da doença de Chagas, Francisco Edson
aguarda procedimento desde dezembro do ano passado, vivendo com ajuda
financeira do estado.
Por G1 CE
A cada cinco metros, uma parada. Respira – ou tenta respirar
– fundo, escorado em um caminhão, para depois seguir. Se a distância de casa
até o Hospital do Coração de Messejana, em Fortaleza, é de dois quarteirões,
Francisco Edson Xavier, 55, precisa descansar pelo menos 58 vezes até percorrer
os 290 metros em busca do tratamento para insuficiência cardíaca.
Desde dezembro do ano passado, o aposentado se mudou de
Mossoró, no Rio Grande do Norte, para a capital cearense, onde aguarda na fila
por um transplante de coração. “Pra ir fazer os exames, eu paro direto, ando
uns quatro ou cinco metros e canso. Tô muito aflito. Quero conseguir logo esse
coração novo e voltar a respirar”, angustia-se o potiguar.
Ao sair de casa para a cidade nova à procura de renascer,
Edson encontrou amparo na Associação dos Transplantados Cardíacos do Ceará
(ATCC), onde pelo menos mais 20 pacientes estão à espera de um novo órgão.
Hoje, o aposentado vive com a filha e a esposa em uma casa alugada no mesmo
bairro do hospital onde se trata, paga com o auxílio do programa de Tratamento
Fora de Domicílio (TFD), fornecido pelo Governo do Estado.
“Eu tenho cardiomiopatia da doença de Chagas, coloquei um
marca-passo em 2012, lá em Mossoró, e não deu certo, não tinha mais jeito. Fui
a São Paulo e consegui outro tipo – que não resolve, mas fica mais ou menos pra
eu ir vivendo. Meu coração cresceu tanto que o marca-passo não dá mais
resultado”, lamenta.
Insuficiência cardíaca
A doença de Chagas que castiga Francisco Edson é só uma
entre as várias causas da insuficiência cardíaca, que mata uma média de 86
pessoas por mês no Ceará, se considerados os óbitos entre 2009 e 2018 no
estado, informados pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). De acordo com o
coordenador da Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca do Hospital do
Coração de Messejana (HM), João David de Sousa Neto, a doença geralmente está
associada a outras “comorbidades”.
"As causas mais comuns são hipertensão arterial,
diabetes, doença coronariana, infarto, processos inflamatórios no coração,
doença reumática e doença de Chagas. Mas existem muitas outras. Uma que hoje é
muito prevalente é o endurecimento do coração. A população idosa tem mais
tendência a ter essa síndrome, em que o coração é normal no tamanho, mas não na
função", aponta o cardiologista.
Em dez anos, entre 2009 e o ano passado, a doença matou
10.367 pessoas no Ceará – 5.552 delas (53,5% do total) na faixa etária acima de
80 anos. Já de janeiro a maio de 2019, foram registradas 400 mortes pela doença
no Ceará – do total, 192 vitimaram idosos acima de 80 anos (48%). No mesmo
período, 153 cearenses de 60 a 79 anos morreram pela síndrome cardíaca,
seguidos pela faixa etária de 20 a 59 anos, que totalizou 55 óbitos.
Diariamente, de acordo com o coordenador da unidade, cerca
de 50 pacientes graves são atendidos no laboratório e mais de 3 mil pacientes
com a doença no Estado estão registrados no banco de dados do Hospital de
Messejana. "O número de atendimentos pode aparentar pequeno, mas os
pacientes vêm com frequência e têm consulta demorada, porque muitos têm várias
comorbidades", explica.
O problema afeta igualmente homens e as mulheres, mas ainda
são eles os que mais morrem: do total de mortes no Ceará, 51% foram do gênero
masculino e 49% do feminino. O cardiologista João David afirma que "os
homens têm mais fatores de risco, e neles a doença é mais frequente e
intensa", mas reforça que a prevenção é indispensável a todos os grupos.
"Tratar colesterol, pressão alta e diabetes e
diagnosticar precocemente as inflamações no coração, por exemplo, são formas de
evitar que no futuro a insuficiência cardíaca apareça. É preciso incrementar
esses cuidados, porque essa doença mata mais do que o câncer", alerta.
Transplantes
O acompanhamento constante da saúde é outro fator
preponderante para frear as mortes, já que diagnosticar precocemente a doença
aumenta as chances de eficácia do tratamento.
"É uma doença que se arrasta por muitos anos, às vezes
com poucos sintomas, e se não é diagnosticada precocemente, avança. Tanto o
diagnóstico como o tratamento são clínicos. Se o tratamento medicamentoso não
resolver, vem o intervencionista, com possíveis cirurgias. Mas, em muitas
situações, chega a um estágio em que somente o transplante resolve."
A última e mais complexa foi a solução encontrada por quase
260 pacientes no Ceará, em dez anos. De 2009 a 2018, 259 pacientes receberam um
novo órgão no Estado, período em que houve um crescimento de 24% nos
procedimentos.
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