Cumprimento do calendário de imunizações evita infecções ou quadro graves de saúde e pode ser regularizado em postos de saúde.
Por Lucas Falconery, G1 CE
A vacinação de crianças, contra formas graves de tuberculose
e imunização de doenças como meningite e paralisação infantil, ainda está a
cerca de 10 pontos percentuais de alcançar a cobertura vacinal desejável, como
mostram os registros da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), com dados até
setembro deste ano. A BCG, que deve atingir no mínimo 90% do público, está em
64%, a Pentavalente e da Poliomielite, ambas com cobertura de 95%, estão em
78,75% e 84,13%, respectivamente.
Os números evidenciam a necessidade de adesão e o
cumprimento do calendário de vacinação para evitar doenças com potencial de
comprometer a saúde de crianças. Até o fim do ano, a meta é alcançar o total de
255.594 crianças no estado.
Os bebês já podem sair da maternidade com vacina BCG, que
protege contra formas graves de tuberculose e é aplicada em dose única. No ano
passado, essa imunização ficou abaixo da meta de 90%, registrando 85,59%. Foi a
primeira vez que o estado não alcançou a cobertura acima de 100% do público
alvo nos últimos seis anos.
Carmem Osterno, coordenadora de Imunização da Sesa, explica
que esses números podem estar relacionados com a logística de aplicação da
vacina. “Hoje muitas maternidades ainda têm vacinação, mas outras não. É um dos
problemas não ter mais a vacinação ao nascer. O segundo ponto é que nem todo
município tem maternidade. Às vezes a criança nasce em um município vizinho. Se
essa criança nascer sábado ou domingo, ela não é vacinada”.
São realizados agendamentos nos postos de saúde para atender
esses casos, mas como observa a coordenadora, parte dos responsáveis não
comparecem às unidades de saúde. Esse processo também é importante para evitar
o desperdício de vacinas - já que quando se abre um frasco da BCG com 20 doses,
a imunização só dura seis horas. “O frasco multidose da vacina tem esse tempo
muito curto após aberto, faz com que a criança tenha que ser agendada para se
vacinar em outro dia”, reforça Osterno.
Em 1988, como pontua a coordenadora, a cobertura vacinal
contra as formas graves de tuberculose era de até 30%, porém com a oferta da
imunização ainda na maternidade esse índice teve aumento relevante no estado.
Com informações sobre a relevância do procedimento, a
fisioterapeuta Gabriela Lima Verde, de 31 anos, segue criteriosamente o
calendário de vacinação do filho Davi Gabriel, de seis meses. “Eu desde o
primeiro dia de vida dou as vacinas mensais bem direitinho, mas algumas vacinas
não tem no posto e eu pago particular”, pondera. Para manter esse controle, ela
vai aos postos de saúde em horário de menor movimento e observa os cuidados e
atenção dos profissionais nos atendimentos.
Cumprimento do calendário
Vacinas como a Pentavalente, contra tétano, difteria,
hepatite B, coqueluche e a bactéria Haemophilus influenza tipo B, que pode
causar meningite e outros tipos de infecções, necessitam de várias doses para
garantir a imunidade. Neste caso, três doses da vacina, uma aos dois, outra aos
quatro meses e a última com seis meses do nascimento.
O índice dessa vacina caiu quase 20 pontos percentuais entre
2014, quando alcançou 98,92% da meta, e 2019, ao contemplar 79,46% das crianças
monitoradas. Neste ano, a imunização está em 78,75%, quase o valor do total do
ano passado, mas abaixo da meta de 95% de aplicações. Os repasses da imunização
pelo Ministério da Saúde não seguiram o planejamento devido a reprovação do
teste de qualidade feito no último ano.
A coordenadora de imunização da Sesa destaca que foram cinco
meses sem receber doses da vacina Pentavalente no Ceará, mas que o cenário
voltou ao adequado desde janeiro deste ano.
“Estamos tentando fazer com que todas essas crianças, que
não completaram ainda um ano de idade, se vacinem o mais rápido possível para
ficar ainda dentro do cálculo de um ano”.
Como forma de evitar a paralisia infantil, são necessárias
três doses da Poliomielite Inativada (VIP), aos dois, quatro e seis meses de
nascimento e a vacina Poliomielite Oral (VOP), aplicada aos 15 meses e aos
quatro anos de idade. Ano passado, a meta de 95% não foi atingida no estado,
também pela primeira vez nos últimos seis anos, quando o total foi de 92,64%.
Até o fim de setembro deste ano, 84,13% do público recebeu a imunização.
Na capital, crianças menores de cinco anos também foram alvo
da campanha do Dia D contra a poliomielite, além do sarampo, com a mobilização
de 114 postos de saúde e 30 pontos de comércios e escolas, no dia 17 de
outubro. As vacinas contra a pólio, em Fortaleza, atingiram 87% da meta até
setembro deste ano, conforme a Secretaria da Saúde do Município (SMS).
E quando perde a vacina?
A médica pediatra e diretora de uma clínica de vacinação,
Vanuza Chagas, explica que mesmo em caso de atraso ou falta de aplicação das
doses de reforço, é possível regularizar o calendário. “Vacina dada fica
guardada na memória imunológica, e em qualquer momento pode se aplicar a dose
que está faltando, o mais rápido possível. Os calendários são feitos com base
na idade adequada para a resposta imunológica melhor”.
“A gente vê que esses números [infecções] vêm aumentando,
com maior circulação no país, e com essa queda vacinal o risco dessas doenças
voltarem com força total, como aconteceu com o sarampo, de levar a óbito”.
Garantir a vacinação evita internações e complicações, como
quadros de dificuldade respiratória ou mesmo morte, além da criação da
imunidade de rebanho - quando uma criança vacinada não se infecta e nem
transmite a doença para outras pessoas, fazendo com que uma localidade fique
livre de infecções. “A gente tem que ficar alerta para as fake news, movimentos
antivacinas, que ainda se propagam muito. A gente tem de dar segurança, no
momento da vacinação, e divulgar fontes seguranças para prevenção de doenças”,
conclui a especialista.
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