Segundo a vice-governadora, Izolda Cela, a ideia tem sido avaliada no estado, assim como já foi feito no Maranhão e em São Paulo.
Por Thatiany Nascimento, G1 CE
A criação do 4º ano do ensino médio, que já foi anunciada no
Maranhão e São Paulo como uma ação a ser implementada em 2021, em decorrência
da pandemia, também é avaliada pelo Governo do Ceará. A vice-governadora,
Izolda Cela, afirmou ao G1, sem dar detalhes, que a ideia tem sido avaliada no
estado. Esse ano, a rede estadual tem 98 mil alunos matriculados no 3º ano do
ensino médio e, conforme a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), a criação
da série está em estudo no atual momento e, por isso, "não é possível
ainda falar a respeito".
Izolda informou que é um desejo do Governo “garantir para
aqueles meninos que estão no 3º ano, e se sentiram muito prejudicados com
relação ao Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], eles terem oportunidade de
ter um programa de estudo. De ter uma espécie de quarto ano. Tudo isso está
sendo pensado e planejado”.
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A proposta estudada pela Seduc no Ceará já foi adotada no
Maranhão, conforme anúncio feito em junho pela Secretaria de Estado da Educação
do Maranhão e por São Paulo, de acordo com comunicado do governo estadual
realizado em julho. Em ambos as redes estaduais o acesso ao 4º ano letivo será
opcional em 2021. A medida, justificam as gestões, é para garantir que os
estudantes participem de mais aulas e reforcem a preparação para o Enem e
outros vestibulares. Ainda não se sabe se o 4º ano do ensino médio terá prova e
reprovação.
A Lei Federal 14.040/2020, aprovada na pandemia, que trata,
dentre outros, do cumprimento dos dias letivos em 2020, permite a criação do
ano a mais. Conforme a norma, cada sistema de ensino pode “possibilitar ao
aluno concluinte do ensino médio matricular-se para períodos de estudos de até
um ano escolar suplementar”. A oferta deve ser em caráter excepcional e ocorrer
por conta dos impactos do estado de calamidade pública.
O Ceará chegou a 266.289 casos confirmados de Covid-19 e
9.218 mortes em decorrência da doença, segundo dados da plataforma IntegraSUS,
da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), atualizada às 9h31 desta terça-feira
(20). O número de pessoas recuperadas já é de 228.777.
Estudantes
Na avaliação de estudantes da rede pública ouvidos pelo G1,
cursar um ano a mais não é um desejo generalizado, mas, de acordo com eles, é
uma alternativa que leva em consideração as desigualdades de acesso ao ensino
remoto. Para Maria Vitória Pimentel, estudante do 3º ano da rede estadual, o
momento “tem sido uma experiência difícil de lidar”.
Ela diz que, caso seja implementado, não sabe se irá cursar
o 4º ano. “Eu acho que sim. Não posso garantir, pois apesar de toda essa
situação, a vida não parou e ela não para. As cobranças sempre permaneceram e
permanecem mesmo que a gente esteja em uma realidade desfavorável. Alguns
colegas que estão tendo um baixo rendimento comentam que super fariam, mas já
outros comentam que não, pois veem como atraso”.
Alunos da rede estadual inscritos no Enem
Dos 98 mil alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio na
rede estadual do Ceará, 99% estão inscritos no Enem, segundo a Seduc. Vitória é
uma delas e reforça: “não me sinto preparada e de uma certa forma, abalada. Eu
tinha muitas expectativas para este ano, me preocupo muito com o próximo”.
Para outro estudante do 3º ano da rede estadual, Cauã Lemos,
a experiência com as aulas remotas tem “sido boa. Algumas pessoas conseguem
estudar o que os professores mandam e toda semana tem aula e atividade”. Ele
também irá fazer o Enem e, sobre criação do 4º ano, afirma: “sinceramente não
sei, muitas pessoas não são a favor do quarto ano, principalmente as pessoas do
terceiro ano, já que a maioria quer entrar em uma faculdade logo e trabalhar
para ajudar a família em casa”.
Segundo a professora de matemática da rede estadual, Tyara
Lima, até o momento não houve manifestação do estado junto à categoria sobre
essa possibilidade. “Cogitou-se uma espécie de ‘cursinho’, que dependeria da
data do Enem 2020. Mas nada oficial”, diz ela. A profissional pondera se as
escolas teriam estrutura para comportar novas turmas e ainda permanecer com os
alunos que cursaram o 3º ano em 2020.
“Tudo isso requer uma logística não somente de espaço, mas
de recursos humanos. Mais turmas, mais profissionais. Na minha opinião, o
estado deveria ofertar, porém não de maneira obrigatória”, diz a docente.
Garantia de apoio educacional
O docente da Faculdade de Educação (FACED/UFC) e pesquisador
do Laboratório de Estudos do Trabalho e Qualificação Profissional (Labor/UFC),
Jackson Braga, ressalta que “o que deve motivar a criação de um quarto ano no
ensino médio no Ceará é a necessidade de segurança e de apoio que os estudantes
da rede pública precisam nesse momento. Não é uma questão de pesquisa sobre o
interesse ou não dos estudantes. O Estado precisa se antecipar. Em relação à
aprendizagem e também no que se refere à convivência social, às questões
psicológicas, aos laços afetivos e de amizade, as perdas com o ensino remoto
são incontestáveis”.
Ele também destaca que a centralidade da aprendizagem deve
ser “o próprio estudante e não os conteúdos curriculares”. Portanto, afirma,
“abrem-se duas frentes de trabalho para os educadores: a primeira, possibilitar
que o aluno e a aluna escolham as disciplinas que mais sentem dificuldade de
aprendizagem; a segunda, consultar e descobrir o que foi perda de aprendizagem
e quais são os conteúdos curriculares mais difíceis e os mais exigidos e
preparar uma boa revisão direcionada”.
De acordo com ele, o 4º ano não deve ser obrigatório, nem
deve contar com reprovação. “É fundamental que o governo do Estado garanta que
vai destinar recursos exclusivos que podem ir desde a contração de novos
professores ao uso de mais equipamentos tecnológicos. A verdade é que deixar
nossos estudantes entregues à própria sorte em um momento tão difícil seria
mais um descaso público”.
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