Auditoria para validar certificação foi realizada no fim de setembro para verificar a ausência de inseto que prejudica os frutos. Com a validação, região pode produzir 37,5 mil toneladas das frutas e gerar 1,5 mil empregos.
Por Lucas Falconery, G1 CE
Produtores de frutas de Palhano, munícipio no Vale do
Jaguaribe, no interior do Ceará, aguardam resultado de auditoria realizada pelo
Departamento de Agricultura norte-americano, ocorrida no fim de setembro, para
aprovação da exportação de melões e melancias cearenses aos Estados Unidos. O setor
estima que, com a licença e disponibilização de água, podem ser produzidas 37,5
mil toneladas de frutas e 1,5 mil empregos gerados no primeiro ano de
atividades.
Agentes do Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal dos
Estados Unidos visitaram Palhano e cidades vizinhas, entre 28 e 29 de setembro,
para verificar a ausência de insetos conhecidos como moscas das frutas,
Anastrepha grandis, que podem espalhar doenças e estragar os frutos.
A Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri)
aguarda o retorno ainda neste ano e de forma positiva, já que testes realizados
na localidade não identificam os insetos em questão.
Caso seja considerada área livre de mosca da fruta, o
munícipio pode ajudar na expansão da quantidade de frutos encaminhados ao
mercado internacional, como observa Neiliane Borges, diretora de Prevenção da
Adagri.
“Com a vinda de novos mercados como o da China, que é o mais
recente, traz a necessidade de ampliação da área livre e a expectativa nossa é
que, com disponibilidade de água e ampliação do mercado de exportação, a gente
vai praticamente triplicar a produção no campo”.
Os chineses devem receber a primeira carga de melão
cearense, com 3,4 mil caixas das frutas, no dia 26 deste mês. Porém, como
destaca a diretora, em 2019 foram exportados US$ 41 milhões em frutas para
países como Holanda, Reino Unido, Espanha, Itália e Emirados Árabes. “Então, a
expectativa é da gente manter esse mercado e abrir novos com a ampliação dessa
área livre”, acrescenta.
Palhano já é reconhecida com área livre do inseto pelo
Ministério da Agricultura, mas se garantir aprovação pelo departamento
norte-americano, o município entra para o grupo autorizado a enviar os frutos
para outros países. Na lista, estão as cidades de Aracati, Icapuí, Itaiçaba,
Jaguaruana, Russas, Quixeré e Limoeiro do Norte.
Monitoramento
Em Palhano, são realizados testes a cada duas semanas, com a
instalação de armadilhas para insetos em diversos pontos da localidade, com
amostras analisadas no Instituto Federal de Ciências e Tecnologia (IFCE), em
Limoeiro do Norte. “Não há a presença (da mosca) aqui, ela tem de ficar fora
para que a gente consiga manter a área que chamamos de livre e os países
aceitem comprar essas frutas. É um trabalho de vários anos, de monitoramento e
de controle”, detalha a coordenadora do bacharelado em Agronomia, Ana Raquel de
Oliveira Mano.
Para ela, esse trabalho conjunto contribui para o
desenvolvimento das cidades da região com atração de investimentos. “Na
parceria do IFCE, como uma instituição de âmbito federal, da Adagri e da
iniciativa privada, todos estão trabalhando com o único objetivo de manutenção
dessa área livre para favorecer a exportação e a agricultura local”, diz.
Falta de água
O Ceará liderou as exportações brasileiras de melão entre
2008 e 2015, mas desde 2016 essa posição foi assumida pelo Rio Grande do Norte
(RN) devido à falta de água em solo cearense. Em 2018, foram exportados US$
70,9 milhões da fruta produzida no RN, enquanto o Ceará vendeu ao exterior US$
60,9 milhões de melão, conforme dados do Ministério da Economia.
“A escassez de água tem sido um fator limitante para a
produção porque são culturas exigentes com relação a água. Palhano foi um dos
municípios que já produziu bastante melão e melancia, mas uma empresa saiu de
lá para produzir na Bahia e no Piauí por falta de água”, comenta Neiliane
Borges. No entanto, com a chegada das águas do rio São Francisco no Açude
Castanhão os produtores já manifestam a retomada da produção de frutas aos
municípios cearenses, como observa a representante da Adagri.
Tom Prado, diretor do Lide Agronegócios no Ceará, reforça
que não basta apenas a licença norte-americana, mas também a disponibilidade de
água. “Mesmo que seja via transferência do Canal da Integração, aí sim será
possível o plantio e a exportação de melão e melancia”, pontua.
O diretor explica que o abastecimento pelo Rio Jaguaribe é
dificultado pela perda de água, e o Açude Castanhão está com baixa reserva,
hoje de 13,37% pelo monitoramento atualizado nesta semana pela Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). “Sem falar em usos não
autorizados, sem outorga. Já pelo canal da Integração e pelo Canal do
Trabalhador os usos são mais fiscalizados, tem de ter outorga e tem menor
percolação e infiltração”, acrescenta.
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