segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Cientistas estrangeiros pesquisam previsão do tempo e uso da água no semiárido cearense

Grupo realiza análise de dados, uso de inteligência artificial e pesquisas de campo para embasar gestão dos recursos hídricos no estado.

Por Lucas Falconery, G1 CE

 

Entender os fatores que influenciam a quadra chuvosa e os usos da água para sobrevivência e para agricultura no Ceará desafia pesquisadores vindos de países como Colômbia, Benin e Tunísia. São seis pesquisadores no grupo viabilizado por meio dos programas de pesquisa da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

 

A tunisiana Fajr Fradi, doutoranda em recursos hídricos, decidiu dar prosseguimento aos seus estudos sobre seca ao notar as similaridades entre sua terra natal e o Ceará. Desde 2019, a pesquisadora se divide entre atividades na Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Montpellier, na França.

 

A estudiosa fez visitas técnicas à bacia do Riacho Forquilha, em Quixeramobim, no Sertão Central, e à bacia do Riacho do Sangue, no Vale do Jaguaribe. “Meu objetivo é entender a perspectiva do uso das águas por diferentes usuários porque tem, por exemplo, em um açude, pessoas que querem fazer agricultura, criar gado ou peixes. Estou estudando essas diferentes perspectivas e as opções para cada usuário de como combater essa seca. Acredito que no estado tem uma infraestrutura hídrica muito sólida, só que falta a percepção social, e entender se as pessoas querem alocar o açude para abastecimento ou para agricultura”.

 

O resultado dos estudos e pesquisas também serão reunidos de modo a contribuir com decisões governamentais, como a criação de reservatórios de água. “Vou criar indicadores de resiliência para seca. Então, um usuário que tem duas opções para manter o uso da água, como um açude e um poço, ele é mais resiliente do que um outro usuário", explica a pesquisadora.

 

Previsão de chuvas

Por meio da observação de fenômenos nos oceanos é possível antecipar o volume de chuvas, por exemplo, esperado entre fevereiro e maio no estado, como explica o cientista colombiano Luis Carlos Hernández.

 

“Eu trabalho com previsão de variação dos afluentes nos reservatórios estratégicos do Estado. Para fazer isso utilizo modelagem hidrológica. São (metodologias) estatísticas, mas estou entrando com inteligência artificial. O objetivo é fazer essa previsão e incluir informações climáticas”. Essa antecipação pode ser em torno de seis meses.

 

Os estudos já geraram dois artigos científicos em conjunto com o grupo de estudos e orientadora. “A gente coloca as informações nos modelos para ter ganhos na previsão e com essas informações dos indicadores, as temperaturas da superfície do mar, por exemplo, a gente tenta ter um ganho da previsão para a quadra chuvosa, prever os volumes [de chuva] entre fevereiro a maio e auxiliar a gestão dos recursos para tomar decisões no estado”, destaca Luis Hernández.

 

Além do comportamento dos oceano, o físico Gbekpo Aubains Honsou-Gbo de Benin, país da África Ocidental, avalia a série histórica de chuvas no Ceará em busca de padrões. “No ano passado, a gente analisou a influência do Atlântico Tropical, na região equatorial, sob a chuva com antecedência de mais de quatro meses. Ou seja, olhando as condições oceânicas, entre julho e setembro, a gente tenta ver o cenário de chuva no Nordeste entre fevereiro e maio”, frisa o especialista com doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

 

 

Dessa forma é possível entender, entre outras coisas, como o El Ñino - aquecimento das águas nos oceanos - influencia direta ou indiretamente nas precipitações do Nordeste. “O modelo que a gente desenvolve, a gente usa para dar um suporte na tomada de decisões. O Governo pode ter uma ideia da estação chuvosa desde essa época, por exemplo, para fazer o planejamento e gerenciamento”.

 

Intercâmbio de conhecimento

Eduardo Sávio, presidente da Funceme, avalia as iniciativas como fortalecimento entre instituições internacionais dedicadas ao estudos da seca. “Isto favorece outros olhares sobre o nosso semiárido, uma vez que nossos parceiros trabalham neste contexto com ferramentas, metodologias e envolvendo profissionais de várias disciplinas no entendimento dos problemas enfrentados pelas terras secas”, destaca.

 

Essa produção de conhecimento ajuda a dar mais eficiência às estratégias para evitar os danos da seca no estado, como observa. "Todos estes estudos estão no escopo do Planejamento Estratégico da instituição, contribuindo assim com sua missão, em particular, aquela mais intimamente ligada ao Setor de Recursos Hídrico. O esforço, entretanto, é dar um tratamento territorial aos problemas identificados, em contraposição ao olhar setorial", acrescenta Eduardo Sávio.

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