Grupo realiza análise de dados, uso de inteligência artificial e pesquisas de campo para embasar gestão dos recursos hídricos no estado.
Por Lucas Falconery, G1 CE
Entender os fatores que influenciam a quadra chuvosa e os
usos da água para sobrevivência e para agricultura no Ceará desafia
pesquisadores vindos de países como Colômbia, Benin e Tunísia. São seis
pesquisadores no grupo viabilizado por meio dos programas de pesquisa da
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
A tunisiana Fajr Fradi, doutoranda em recursos hídricos,
decidiu dar prosseguimento aos seus estudos sobre seca ao notar as
similaridades entre sua terra natal e o Ceará. Desde 2019, a pesquisadora se
divide entre atividades na Universidade Federal do Ceará (UFC) e da
Universidade de Montpellier, na França.
A estudiosa fez visitas técnicas à bacia do Riacho
Forquilha, em Quixeramobim, no Sertão Central, e à bacia do Riacho do Sangue,
no Vale do Jaguaribe. “Meu objetivo é entender a perspectiva do uso das águas
por diferentes usuários porque tem, por exemplo, em um açude, pessoas que
querem fazer agricultura, criar gado ou peixes. Estou estudando essas
diferentes perspectivas e as opções para cada usuário de como combater essa
seca. Acredito que no estado tem uma infraestrutura hídrica muito sólida, só
que falta a percepção social, e entender se as pessoas querem alocar o açude
para abastecimento ou para agricultura”.
O resultado dos estudos e pesquisas também serão reunidos de
modo a contribuir com decisões governamentais, como a criação de reservatórios
de água. “Vou criar indicadores de resiliência para seca. Então, um usuário que
tem duas opções para manter o uso da água, como um açude e um poço, ele é mais
resiliente do que um outro usuário", explica a pesquisadora.
Previsão de chuvas
Por meio da observação de fenômenos nos oceanos é possível
antecipar o volume de chuvas, por exemplo, esperado entre fevereiro e maio no
estado, como explica o cientista colombiano Luis Carlos Hernández.
“Eu trabalho com previsão de variação dos afluentes nos
reservatórios estratégicos do Estado. Para fazer isso utilizo modelagem
hidrológica. São (metodologias) estatísticas, mas estou entrando com
inteligência artificial. O objetivo é fazer essa previsão e incluir informações
climáticas”. Essa antecipação pode ser em torno de seis meses.
Os estudos já geraram dois artigos científicos em conjunto
com o grupo de estudos e orientadora. “A gente coloca as informações nos
modelos para ter ganhos na previsão e com essas informações dos indicadores, as
temperaturas da superfície do mar, por exemplo, a gente tenta ter um ganho da
previsão para a quadra chuvosa, prever os volumes [de chuva] entre fevereiro a
maio e auxiliar a gestão dos recursos para tomar decisões no estado”, destaca
Luis Hernández.
Além do comportamento dos oceano, o físico Gbekpo Aubains
Honsou-Gbo de Benin, país da África Ocidental, avalia a série histórica de
chuvas no Ceará em busca de padrões. “No ano passado, a gente analisou a
influência do Atlântico Tropical, na região equatorial, sob a chuva com
antecedência de mais de quatro meses. Ou seja, olhando as condições oceânicas,
entre julho e setembro, a gente tenta ver o cenário de chuva no Nordeste entre
fevereiro e maio”, frisa o especialista com doutorado na Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE).
Dessa forma é possível entender, entre outras coisas, como o
El Ñino - aquecimento das águas nos oceanos - influencia direta ou indiretamente
nas precipitações do Nordeste. “O modelo que a gente desenvolve, a gente usa
para dar um suporte na tomada de decisões. O Governo pode ter uma ideia da
estação chuvosa desde essa época, por exemplo, para fazer o planejamento e
gerenciamento”.
Intercâmbio de conhecimento
Eduardo Sávio, presidente da Funceme, avalia as iniciativas
como fortalecimento entre instituições internacionais dedicadas ao estudos da
seca. “Isto favorece outros olhares sobre o nosso semiárido, uma vez que nossos
parceiros trabalham neste contexto com ferramentas, metodologias e envolvendo
profissionais de várias disciplinas no entendimento dos problemas enfrentados
pelas terras secas”, destaca.
Essa produção de conhecimento ajuda a dar mais eficiência às
estratégias para evitar os danos da seca no estado, como observa. "Todos
estes estudos estão no escopo do Planejamento Estratégico da instituição,
contribuindo assim com sua missão, em particular, aquela mais intimamente
ligada ao Setor de Recursos Hídrico. O esforço, entretanto, é dar um tratamento
territorial aos problemas identificados, em contraposição ao olhar
setorial", acrescenta Eduardo Sávio.
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