O psiquiatra
Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32, disse que o máximo
de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a prisão na qual quer
viver. Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é
impossível refutá-la. A liberdade é uma abstração.
Liberdade
não é uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum
comportamento para vestir. No entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua sem
um crachá de identificação pendurado no pescoço. Diga-me qual é a sua tribo e
eu lhe direi qual é a sua clausura.
São
cativeiros bem mais agradáveis do que o Carandiru: podemos pegar sol, ler
livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou seja, uma cadeia à
moda Luis Estevão, só que temos que advogar em causa própria e hábeas corpus,
nem pensar.
O casamento
pode ser uma prisão. E a maternidade, a pena máxima. Um emprego que rende um
gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e arriscar novos vôos.
O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia. Tudo que lhe dá segurança ao mesmo
tempo lhe escraviza. Viver sem laços igualmente pode nos reter.
Uma vida
mundana, sem dependentes para sustentar, o céu como limite: prisão também. Você
se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida
amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada
através de um filho. Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres,
aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é
que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados. É uma
opção consciente.
Não nos
obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio real,
entre quatro paredes. Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto
que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós nascer foram trancafiados em
lugares chamados analfabetismo, miséria e exclusão.
Brindemos:
temos todos, cela especial.
Martha
Medeiros
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