Segundo o presidente da entidade, às vezes a cirurgia é
suspensa em função da falta de "fio, luva, antibiótico".
Por G1 CE
O Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) aponta que 3.200
pacientes estão à espera de próteses, solução para fraturas graves e outros
procedimentos eletivos nos hospitais públicos do estado. O número oficial,
porém, não foi informado pelo Secretaria da Saúde (Sesa) e nem pelo Ministério
da Saúde (MS), apesar da insistência da reportagem do G1.
Por meio de nota, a Sesa admitiu que "existe um grande
número de pacientes em fila para cirurgias eletivas", mas avalia que
"é preciso não só organizá-la, como qualificá-la, com a identificação dos
pacientes que realmente precisam e o nível de urgência com que têm de ser
realizados" os procedimentos.
Já o Ministério da Saúde limitou-se a informar que destinou
mais de R$ 4,3 milhões ao Ceará, no último dia 29, para a realização de
cirurgias eletivas de agosto a dezembro deste ano. Até então, R$ 1,9 milhão já
havia sido repassado "obedecendo aos critérios da estratégia de ampliação
do acesso", destaca a pasta federal.
Dificuldade
Conseguir dados sobre o total de pacientes que estão na fila
para cirurgias eletivas é avaliado pelo presidente do Simec, Edmar Fernandes,
como "difícil, porque o Governo não quer que a sociedade conheça essa
realidade". Segundo o médico, até mesmo as solicitações da entidade não
são atendidas. "A Secretaria alega dificuldades técnicas e não fornece.
Levamos de três a quatro meses para obter os dados", cita.
Quem vive a incerteza da espera por um procedimento, o tempo
é ainda maior. Há mais de um ano, a agente comunitária de saúde Jerúsia
Freitas, 43, aguarda a troca completa da prótese do quadril, implantada há uma
década, após um acidente de trânsito que a obrigou operar fêmur, quadril e
bacia.
"Já está desgastada, mas a troca não é feita no Ceará,
porque precisa de um enxerto ósseo, e aqui não tem banco de ossos. Entrei na
fila em 2017, mas me disseram que quem entrou em 2009 tá conseguindo agora. Ou
seja, nenhuma previsão pra mim. Tenho sentido muita dor e dificuldade de
caminhar. E não tenho condições de pagar por uma cirurgia dessas", lamenta
a agente de saúde, que pretende recorrer à Justiça para conseguir o procedimento.
De acordo com Edmar Fernandes, às vezes, uma cirurgia é
suspensa em função da falta de "fio, luva, antibiótico". O quadro
poderia ser melhorado caso o estoque de itens tivesse uma reposição. "Se a
disponibilidade desses materiais aumentasse, a fila diminuiria e o número de
leitos para pessoas que estão precisando cresceria. Muitos morrem esperando
cirurgias, outros ficam com sequelas, tornam-se incapazes e dependentes do
Estado”, avalia o médico.
Mais procedimentos em atraso
Para além das cirurgias traumatológicas, há pacientes ainda
no aguardo de outros tipos de procedimentos. A dona de casa Rosa Duarte, 33,
espera há pelo menos cinco anos por uma traqueostomia para solucionar a
insuficiência respiratória do filho Jonas, de 2 anos e meio. "Da última vez
que liguei pro (Hospital Infantil) Albert Sabin, há dois meses, tinha 227
pessoas na frente dele. Muitas crianças vão saindo da fila porque não
resistem", lamenta a mãe do garoto.
No dia 31 de julho, o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias)
foi questionado pela reportagem sobre quantos pacientes aguardam na fila por
procedimentos cirúrgicos, quais os critérios de posicionamento dos pacientes na
fila e quantos já foram operados neste ano, mas não obteve resposta até a
publicação desta matéria.
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