Situação mais delicada é no Sertão dos Inhamuns; fogo pode
devastar 10% de todo o território do Estado.
Por Alex Pimentel
No Ceará, 20 municípios estão com alto risco de incêndios
florestais. O quadro mais grave é no Sertão dos Inhamuns, seguido do Médio
Jaguaribe e Sertão Central. Também há áreas nessa situação no extremo do Cariri
e região Norte do Estado. O alerta, da Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (Funceme), é resultado de uma pesquisa realizada pelo seu
Núcleo de Estudos Básicos.
O fogo pode devastar áreas enormes. Somadas, as regiões
apontadas sob esse perigo representam 10% de todo o território cearense.
Em Tauá, nos Inhamuns, a área de risco supera os 1.600 km².
Na cidade vizinha, Independência, são mais de 1.900 km² em perigo de incêndio.
Esse espaço corresponde a quase dois mil campos de futebol nas dimensões
oficiais do Brasileirão. Tamanha extensão territorial por si demonstra a
impossibilidade de fiscalização presencial por agentes dos órgãos ambientais.
“Este estudo, iniciado em 2017 e concluído este ano, poderá
nortear brigadistas do Ibama, o Corpo de Bombeiros e agentes ambientais do Estado
e dos municípios no planejamento das estratégias de prevenção, monitoramento,
controle de queimadas e combate aos incêndios florestais e, principalmente,
subsidiar as políticas de autorizações de fogo controlado”, explica o autor da
pesquisa, Manuel Rodrigues de Freitas Filho.
Mapeamentos temáticos do Estado realizados pela Funceme,
dentre eles a cobertura vegetal natural, uso e ocupação da terra, unidades de
paisagem, pluviometria média anual e índice de vegetação foram levados em
consideração na pesquisa. “Com uso de técnicas de geoprocessamento, estes
mapeamentos passaram por um processo de integração, resultando no mapa que
indica as áreas mais vulneráveis à ocorrência de incêndios florestais”,
acrescenta Rodrigues.
“O mapeamento é importante, poderá auxiliar no planejamento
de operações do Batalhão de Polícia do Meio Ambiente (BPMA) da Polícia Militar
do Ceará. A meta é evitar os incêndios. Sabemos que a maioria deles ocorre pela
ação humana. Mesmo acidental é considerado crime. A pena é de dois a quatro
anos (de prisão). Está previsto no Artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais”,
comenta a 1ª Tenente Luziane Freire, da 1ª Cia do BPMA.
Causas
Até o retorno da quadra chuvosa, a baixa umidade do ar e a
vegetação seca serão os combustíveis ideais para propagação de incêndios. “As
queimadas, uma prática tradicional na agricultura, sem controle, são as
principais causas, mas até mesmo uma bituca de cigarro jogada casualmente na
beira das estradas pode acender as chamas e causar os incêndios” aponta o coordenador
do PrevFogo do Ibama no Ceará, Kurtis François Bastos. Ele conta cm uma equipe
de 30 brigadistas.
Na avaliação de Kurtis, todo o bioma Caatinga está sob
risco. Para evitar é importante coibir os manejos inadequados de solo.
Quadro meteorológico
Segundo o meteorologista da Funceme Raul Fritz, esse risco
está relacionado às grandes massas atmosféricas de ar seco no país,
principalmente pelo Interior. No último fim de semana, o órgão meteorológico
oficial do Estado registrou níveis de alerta de umidade relativa do ar em Tauá
e Jaguaribe com 15%, Iguatu com 17%, e Quixeramobim, 19%. A Organização Mundial
da Saúde (OMS) considera como ideal acima de 60%.
“As temperaturas mais altas também chegam para colaborar
para o tempo mais seco. De forma geral, os baixos índices de umidade relativa
do ar e os valores extremos de temperatura máxima acontecem entre o início e o
meio da tarde”, acrescenta Fritz.
Nas últimas 24 horas, Redenção registrou a maior temperatura
do estado com 37,4°C. Sobral, com 37,3°C veio logo depois. Já em Fortaleza,
entre segunda-feira e esta terça, a máxima atingiu 32,5°C.
Monitoramento de queimadas
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), o período entre setembro e outubro registra os picos mais elevados de
focos de queimadas no Estado. Em 2019, já foram registrados 216 no Ceará, a
maioria, 194, em janeiro.
Nos últimos quatro anos, 2016 apresentou o maior número de
focos de queimadas no Ceará. Foram 4.280 ocorrências, com maior número em
novembro, totalizando 1.373 casos. No mês anterior, outubro, os focos chegaram
a 1.241. Já em 2017, os 12 meses somaram 3.482 incêndio. A maior quantidade se
concentrou novamente nos últimos meses, com 793 em outubro, 953 em novembro e
1.171 em dezembro. Em 2018 houve redução. Foram detectados 3.031 focos, a
maioria nos últimos meses do ano: 591 em outubro; 860 em novembro e 723 em
dezembro.
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