Procedimento realizado no último domingo buscou corrigir
má-formação congênita em um feto.
Por G1 CE
No procedimento, a principal inovação na técnica utilizada é
que ela é feita "a céu aberto", ou seja, os médicos colocam o útero
da paciente para fora e fazem uma pequena incisão no órgão, através da qual
operam a coluna do feto. Em seguida, fecham as incisões e o útero é inserido
novamente no abdômen da mãe. A duração foi de 3 horas e 30 minutos. A gestação
segue normalmente até o nascimento do bebê, geralmente prematuro.
A cirurgia foi coordenada pelos professores Edson Lucena e
Herlânio Costa, da Faculdade de Medicina da UFC, e viabilizada com a vinda de
quatro médicos de São Paulo: os neurocirurgiões Sérgio Cavalheiro e Italo
Suriano, e os obstetras fetólogos Antonio Fernandes Moron e Maurício Barbosa.
Além deles, participaram também o neurocirurgião pediátrico
Eduardo Jucá e a anestesiologista Fernanda Castro e equipe com mais de 20
profissionais.
Os médicos Edson Lucena, Carlos Augusto e Herlânio Costa, do
Complexo Hospitalar da UFC comemoraram o sucesso da cirurgia. — Foto:
Divulgação/UFC Os médicos Edson Lucena, Carlos Augusto e Herlânio Costa, do
Complexo Hospitalar da UFC comemoraram o sucesso da cirurgia. — Foto:
Divulgação/UFC
Os médicos Edson Lucena, Carlos Augusto e Herlânio Costa, do
Complexo Hospitalar da UFC comemoraram o sucesso da cirurgia. — Foto:
Divulgação/UFC
Mais chances de sucesso
"O procedimento melhora o prognóstico dessas crianças
no sentido motor, neurológico e no desenvolvimento em toda a sua vida, com
menor taxa de hidrocefalia. Já há evidências científicas consistentes de que
quando a cirurgia é realizada intra-útero o resultado neurológico é melhor do
que a cirurgia pós-natal", explica o Professor Edson Lucena.
O professor Herlânio Costa ressalta a importância do
diagnóstico precoce. Segundo ele, a cirurgia "a céu aberto", deve ser
feita entre a 24ª e a 26ª semanas de gravidez "para que haja tempo de
orientação adequada e preparo da paciente e a família possa tomar sua decisão".
A mielomeningocele já pode ser cogitada no ultrassom morfológico de 1º
trimestre, entre 11 e 14 semanas de gestação, e confirmada a partir da 15ª
semana, em geral, no morfológico de 2º trimestre, de 18 a 24 semanas, conforme
aponta o especialista.
Busca pelo tratamento
A enfermeira Fernando Oliveira veio de Russas e se recupera
bem do procedimento cirúrgico — Foto: Divulgação/UFC A enfermeira Fernando
Oliveira veio de Russas e se recupera bem do procedimento cirúrgico — Foto:
Divulgação/UFC
A enfermeira Fernando Oliveira veio de Russas e se recupera
bem do procedimento cirúrgico — Foto: Divulgação/UFC
A enfermeira Fernanda Oliveira, que mora em Russas, a 150 km
de Fortaleza, já é mãe de uma menina de cinco anos que também tem
mielomeningocele. As limitações no desenvolvimento da primogênita foram a
principal motivação para que a família buscasse um tratamento precoce para a
bebê que está sendo gerada.
"Busquei informação em todo o país, mas a cirurgia
particular era impossível para nós. Foi um especialista de Curitiba quem me
indicou o Dr. Herlânio, aqui da MEAC", contou. A partir da primeira
consulta na Maternidade-Escola, a família e o hospital se organizaram
rapidamente para a cirurgia. Três dias após o procedimento, Fernanda segue se
recuperando muito bem, conseguindo andar, estando medicada e sem dor.
O marido e a mãe também estão dando todo o suporte. "É
uma vitória de toda a família. A saúde da Giovana vai ser importante até mesmo
para a qualidade de vida da Beatriz, que demanda muito nossa atenção. Não temos
palavras para agradecer a Deus e a todos os profissionais envolvidos",
conclui a paciente.
Balanço e perspectivas
Em entrevista ao G1, o Dr. Herlânio Costa, Médico Obstetra
da MEAC, disse que a escolha da paciente para esta primeira cirurgia foi a
partir de uma ligação que ele recebeu de Curitiba informando que havia uma
gestante do Ceará querendo ser operada por lá. "Prontamente ele (médico de
Curitiba) me pôs em contato com ela. Após avaliação ultrassonográfica e por
ressonância magnética confirmamos os critérios de elegibilidade e agendamos
para o melhor período.
Segundo Herlânio, a equipe completa com médicos
especialistas em medicina fetal e neurocirurgiões, já estava preparada e
treinada por profissionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para
realizar o procedimento.
Conforme o especialista, a Maternidade-Escola Assis
Chateaubriand (MEAC) é um dos poucos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS)
a realizar cirurgias desse tipo. A estimativa é de que passem a ser feitas
cerca de três a quatro por ano, mas essa demanda deve aumentar. O procedimento
ficará acessível a toda a população.
O procedimento realizado no bebê de Fernanda foi considerado
um sucesso pelos médicos e contou integralmente com a participação da equipe de
profissionais da maternidade. "É uma cirurgia de alta complexidade e
contamos com uma ampla equipe para o resultado satisfatório. A gestão,
especialmente na pessoa do Dr. Carlos Augusto, deu total apoio na condução
desse processo. Tornou um sonho realidade. Agora iremos beneficiar muitas
outras pacientes, que não precisarão mais se deslocar para outros
centros", concluiu Herlândio Costa.
Mielomeningocele
Também conhecida como espinha bífida aberta, a
mielomeningocele é uma má-formação congênita da coluna vertebral do bebê em que
as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas. O defeito surge
antes da 8ª semana de gestação. Se não for corrigido, traz graves sequelas no
desenvolvimento neurológico da criança. As causas são multifatoriais, podendo
ser genéticas ou ambientais.
A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia estima que, a cada
1.000 nascimentos, um a dez bebês podem ter essa condição. Por isso, a medicina
fetal tem concentrado esforços para tentar corrigir com o máximo de
precocidade, evitando danos mais severos. A técnica mais comum é uma
neurocirurgia nos primeiros dias após o nascimento. Mas nos últimos anos, a
cirurgia no bebê ainda no útero da mãe tem sido a opção mais eficaz.
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