Primeiro documento sobre impacto econômico do zika informa
ainda que custo a longo prazo do vírus no País pode chegar a US$ 10 bi.
Por Elielton Lopes, G1 DF
Entre 2015 a 2017, o zika custou ao Brasil US$ 4,6 bilhões,
o que representa 0,09% do PIB. Já a longo prazo, o custo das anomalias
associadas ao vírus poderá chegar a US$ 10 bilhões. Os dados são do primeiro
relatório sobre a avaliação socioeconômica do zika lançado em Brasília nesta
terça-feira (15).
A ONU aponta que o custo do tratamento de cada criança com
microcefalia associada ao zika ao longo da vida pode chegar a US$ 890 mil. Até
o momento, 48 países confirmaram casos do vírus. O maior número de infecções
nos países foi registrado durante o ano de 2016. Neste ano, houve queda.
Ainda, a estimativa das Nações Unidas é que o impacto
socioeconômico da doença na América Latina e Caribe chegue a R$ 18 bilhões de
dólares – aproximadamente R$ 56 bilhões.
“O zika se assemelha à mobilização durante a epidemia de
ebola na África. Tivemos uma geração de crianças infectadas”, afirma João Paulo
Toledo, diretor da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Representante da Organização Panamericana de Saúde, Joaquin
Molina explica que o Brasil se articulou para identificar a síndrome e ainda
será importante para a busca de respostas.
“O Brasil é hoje e vai ser possivelmente o país mais importante
para ajudar a responder as perguntas que ainda temos”, disse Molina.
O relatório, elaborado pelas Organização das Nações Unidas e
pelo Ministério da Saúde, analisou o impacto causado pela doença no Brasil,
Colômbia e Suriname desde 2015, quando o vírus zika começou a se espalhar.
Preparado por especialistas, pesquisadores, organizações de
saúde e universidades internacionais, os valores foram calculados com base em
avaliação de impacto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) e da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho (FICV).
Especialista observa exame de imagem de um bebê com
microcefalia em hospital do Recife, em foto de 26 de janeiro de 2016 (Foto:
Reprodução TV Globo) Especialista observa exame de imagem de um bebê com
microcefalia em hospital do Recife, em foto de 26 de janeiro de 2016 (Foto:
Reprodução TV Globo)
Especialista observa exame de imagem de um bebê com
microcefalia em hospital do Recife, em foto de 26 de janeiro de 2016 (Foto:
Reprodução TV Globo)
Impacto será significativo
O relatório concluiu que haverá impacto socioeconômico
significativo nos países afetados a curto e longo prazo. As perdas devem ser
sentidas no Produto Interno Bruto dos países, bem como as consequências poderão
ser sentidas no desenvolvimento social, podendo até “desacelerar” o avanço nos
objetivos de desenvolvimento sustentável, como avalia a ONU.
O zika afeta os países mais pobres da América Latina e
Caribe em escala desproporcional, por mais que os governos tenham se esforçado
para controlar a disseminação da doença. Entre as dificuldades enfrentadas, o
documento aponta a “modesta capacidade em sistemas de vigilância e diagnóstico
e em esforços de prevenção”.
A desigualdade na cobertura da saúde também contribui para
que a parcela mais pobre da população fique mais vulnerável.
Situação grave no Caribe
O Caribe é a região mais afetada com o problema. O impacto
no local é cinco vezes maior que em toda a América Latina. Estima-se que o país
tenha perdido aproximadamente R$ 28 bilhões em três anos, devido à redução no
turismo interacional. No Brasil, os custos devem ser maiores, embora o impacto
geral seja sentido com mais intensidade nos países mais pobres.
O relatório conclui que as estratégias locais e nacionais
dos países precisam ser fortalecidas no combate à doença. De acordo com a ONU,
os governos devem estar prontos para reagir em casos de doenças que podem ser
transmitidas com rapidez. Outra recomendação é o controle do mosquito
transmissor de forma “integrada e multissetorial”.
Programas de proteção e sistemas de saúde também devem ser
reforçados e adaptados para atingir as vítimas da doença, o que inclui
mulheres, crianças e pessoas com necessidades especiais.
“O desafio que a gente tem é avaliar os danos causados pelo
zika e suas consequências, seja do ponto de vista social, econômico ou do
impacto no sistema de saúde”, disse Alberto Beltrame, secretário executivo do
Ministério do Planejamento.
Zika vírus
Zika é uma doença causada por um vírus do gênero Flavivírus.
Identificada pela primeira vez em 1947 em um macaco rhesus na floresta Zika, da
Uganda, foi diagnosticada no Brasil em abril de 2015. O vírus é transmitido
pelo mosquito Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a febre chikungunya.
Os principais são dor de cabeça, febre baixa, dores leves
nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. A
evolução da doença costuma ser benigna e os sintomas geralmente desaparecem
espontaneamente em um período de 3 até 7 dias.
O quadro de zika é muito menos agressivo que o da dengue,
por exemplo, e cerca de 80% dos pacientes não têm manifestações clínicas. O que
assusta é sua possível relação com outras condições mais graves, como
microcefalia e síndrome de Guillain-Barré.
Não há tratamento específico para a doença. Segundo o
Ministério da Saúde, os casos devem ser tratados com o uso de paracetamol ou
dipirona para controle da febre e da dor. Assim como na dengue, o uso de ácido
acetilsalicílico (aspirina) deve ser evitado por causa do risco aumentado de
hemorragias.
Prevenção
Como o vírus da zika é transmitido pelo Aedes aegypti, a
prevenção segue as mesmas regras aplicadas a essas doenças. Evitar a água
parada, que os mosquitos usam para se reproduzir, é a principal medida.
Colocar telas de proteção nas janelas e instalar
mosquiteiros na cama também são medidas preventivas. Vale também usar
repelentes e escolher roupas que diminuam a exposição da pele. Em caso da
detecção de focos de mosquito que o morador não possa eliminar, é importante
acionar a Secretaria Municipal de Saúde do município.
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