Polícia ouviu três dos seis filhos do suspeito. Segundo a
delegada, as crianças são muito apegadas ao pai e à mãe.
Por G1 CE
Três dos filhos de acusado de manter a família em cárcere
prestam depoimento
Três dos seis filhos do homem suspeito de manter a mulher e
os filhos em cárcere privado, em Fortaleza, foram ouvidos nesta segunda-feira
(28), na Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente
(Dececa). De acordo com delegada Ivana Timbó, titular da Dececa, o caso é
complexo e merece ser tratado com todo o cuidado possível. Para a delegada,
“causa estranheza que a outra parte da família nunca tenha tomado nenhuma
atitude para ajudar essa família.”
“O que foi percebido é que as crianças são muito apegadas ao
pai e a mãe. Apesar da situação em que viviam elas são relativamente bem
informadas”. Segundo a delegada, não há o que se falar em maus-tratos. “Eles
eram muitíssimo bem tratados e têm o pai como verdadeiro ídolo, mas vão ter de
passar por um tratamento psicológico, até que tenham uma nova noção da
realidade”.
Os seis filhos e a mulher eram mantidos em um apartamento no
Bairro Dionísio Torres sem quase nenhum contato com a realidade. Eles não
frequentavam a escola, não tinham rotina para dormir ou acordar, não
frequentavam lugares públicos – como cinema ou parques –, alguns nunca foram à
praia ou à piscina e nem conviviam com pessoas da mesma idade, segundo conta a
delegada.
“Eles não têm ideia do que é ter amigos. É como se o núcleo
familiar fosse suficiente para a vivência deles. Não tinham nem mesmo contato
com os avós – maternos ou paternos -, nem com tios e primos. Apesar de terem
troca de carinho com os pais, a elas é dada uma educação totalmente diferente
da realidade. Elas vivem em um mundo que não é o nosso”, ressalta a delegada.
Ivana Timbó não sabe precisar por quanto tempo as crianças
ficaram praticamente isoladas do convívio com outras pessoas, mas acredita que
pode ter sido por cerca de 10 anos, com intensidade diferente. "Não se
pode dizer que eles viviam completamente presos. Eles contam que saiam para o
mercado, shopping e para a praça. Quando perguntei o que era liberdade para
eles, a resposta foi que era sair para passear".
A situação se agravou após um assalto que o pai sofreu em
2017. "Isso fez com ele ficasse apavorado em sair de casa. Ele acredita
que estava protegendo os filhos dos perigos da rua". Para a delegada, ele
exerce total influência sobre a mulher e os filhos. "A mãe pode ter sido
vítima e autora".
A mãe e os filhos foram encaminhados à unidade de
acolhimento do Estado, enquanto o pai foi liberado após o depoimento. Para a
delegada Ivana Timbó, os filhos não têm a menor condição de permanecer com os
pais. Por outro lado, segundo ela, se o pai for preso nesse primeiro momento,
os filhos estariam sujeitos a sequelas psicológicas. ““Eles têm o pai como um
Deus, e o que ele fala é dogma”.
Só após a conclusão do inquérito é que haverá a definição de
quais crimes foram praticados contra os filhos e a mulher. Entre as possibilidades
estão abandono intelectual e material, além de cárcere. “O poder público não
pode concordar com a situação e esses pais serão responsabilizados por qualquer
ato ilegal praticados por eles contra os direitos das crianças e dos
adolescentes”, explica o defensor público Adriano Leitinho.
Denúncia
Massaharu Nogueira Adachi foi detido e conduzido à delegacia
nesta sexta-feira (25), em Fortaleza, após uma denúncia anônima pelo Disque 100
de que manteria a família em cárcere privado. O apartamento onde todos moravam
possui cinco cômodos, divididos entre cozinha, quarto, sala, área de serviço e
banheiro.
O imóvel, localizado na Rua Visconde de Mauá, no Bairro
Dionísio Torres, não possui móveis e todos dormem em redes. No local tem apenas
eletrodomésticos como fogão, geladeira e máquina de lavar. Na casa, a polícia
encontrou dois revólveres com munição e com registros vencidos
Os filhos, quatro meninas e dois meninos, têm idades entre 4
e 19 anos. Duas das crianças não possuem certidão de nascimento e uma deles
nasceu em casa, pela mãos do pai. O pai aparenta ter problemas psicológicos,
com relatos de perseguição e alucinações. Um inquérito policial foi aberto para
investigar o caso.
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