Estudiosos indicam que pelo menos 59 unidades de conservação
brasileira foram afetadas pelo derramamento de petróleo cru; áreas representam
relevância ecológica, econômica e social.
Por Lucas Falconery, G1 CE
Um artigo elaborado por pesquisadores brasileiros publicado
na Marine Policy, revista especializada em estudos oceânico, afirma que pelo
menos oito Unidades de Conservação (UCs) no Ceará foram atingidas pela mancha
de óleo derramada no litoral brasileiro em 2019. No país, 59 UCs foram
impactadas pela poluição do petróleo.
As manchas de óleo começaram a ser registradas no litoral
cearense no início de setembro do ano passado. Desde então, 40 toneladas de
petróleo cru e sedimentos foram retirados das praias no Estado, conforme a
Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Sema). Foram afetadas 48 localidades no
Ceará, de acordo com o boletim mais recente do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Os pesquisadores usaram os boletins do Ibama, com dados
disponíveis desde o surgimento do óleo, para a elaboração do artigo científico.
Eles foram motivados a organizar um material que possa ser usados para futuros
estudos sobre o assunto com um grupo formado por professores de universidades
federais das áreas da ciências do mar, biologia, botânica, direito, química,
além de ambientalistas.
“A gente fez um apanhado de tudo que se sabia com essa
questão do derrame de óleo para ter isso registrado em um periódico científico
e possa ser usado por outros pesquisadores como referência”, destaca Luís
Ernesto Arruda, professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da
Universidade Federal do Ceará (UFC).
Conforme a publicação, o Ceará está em segundo lugar no
ranking com o maior número desse tipo de localidades impactadas, ao lado de
Pernambuco (8), atrás apenas da Bahia (15).
As Unidades de Conservação cearenses atingidas pelo óleo
foram: Parque Nacional Jericoacoara, Parque Estadual do Rio Cocó, Parque Municipal
das Dunas da Sabiaguaba, Reservas Extrativistas da Prainha do Canto Verde e do
Batoque, Áreas de Proteção Ambiental do Lagamar do Cauípe, do Rio Pacoti e das
Dunas do Litoral Oeste.
Conforme lei federal, são consideradas Unidade de
Conservação os espaços e seus recursos ambientais com características naturais
relevantes. Tais UCs fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza (SNUC) que tem como alguns objetivos proteger as espécies ameaçadas
de extinção, contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de
ecossistemas e proteger os recursos naturais necessários à subsistência de
populações tradicionais.
“Essas unidades de conservação são criadas porque existe ali
uma importância ecológica e econômica em torno daquela área. Quando você tem
algum tipo de impacto nessas unidades de conservação a coisa fica um pouco mais
complicada porque você está impactando uma região que é única”, explica o
professor Luís Ernesto.
O professor ressalta que no Batoque, no Aquiraz, e na
Prainha do Canto Verde, em Beberibe, as comunidades locais são compostas por
pescadores e marisqueiros, por exemplo, que encontram sustento nas riquezas
naturais. “Em desastres com derramamento de óleo, mais importante do que a
quantidade de óleo que vaza é onde esse óleo chega. Se ele chega em locais
muito pobres ou afeta áreas onde tem comunidades que dependem daquela região
para viver isso torna a coisa muito pior”, pontua.
Em nota, a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) disse
que as ocorrências de óleo foram “esparsas e pontuais”. Quanto às unidades de
conservação estaduais, Parque do Cocó, Dunas do Litoral, Lagamar do Cauípe e
Rio Pacoti, a Sema “articulou a criação de um grupo de trabalho (GT de Combate
às Manchas de Óleo), envolvendo vários órgãos, universidades e secretarias
estaduais”. Também foram atualizados os critérios de balneabilidade da água.
Impactos
Mesmo depois que as operações de recolhimento de petróleo
cru deixaram de ser necessárias os impactos ambientais continuam a se propagar
no nível molecular porque as substâncias continuam na água e nas areias. “Isso
precisa ser monitorado a longo prazo tanto a parte da biota quanto das
comunidades que foram e que, provavelmente, serão afetadas ainda por um tempo.
Precisa ter estudos de longo prazo para saber o que tipo de consequência isso
vai ter”, conclui Luís Ernesto.
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