A natureza deu sinais diferentes para os profetas da chuva,
homens e mulheres do sertão que fazem previsões para o período das águas no
Ceará, que vai de fevereiro a maio.
Antônio Lima, de 75 anos, chegou ao 20º Encontro dos
Profetas da Chuva, em Quixadá. a 168 quilômetros da capital, Fortaleza, com uma
casinha da maria e do joão-de-barro. “Se tiver inverno, a maria-de-barro faz a
casa com um material que chuva nenhuma derruba”, explica o profeta, mostrando a
casa que trouxe como exemplo do que descreve.
Assim como Antônio, Renato Lino de Souza, de 68 anos, está
otimista com a quadra chuvosa. Ele mostra o caule da embiratanha, uma planta
típica do Semiárido que apresenta estrias grossas ao longo do seu tronco na
época da seca. “Essa planta nasce em solo pedregoso e vive para dar sinal de
que vai chover. Esses riscos eram bem largos, ela está cicatrizando”, descreve.
Em Quixadá, a manhã deste sábado (9) foi nublada. Antônio
olhava para o céu e descrevia as nuvens como um véu grosso, trazendo chuva do
sul do Ceará para o sertão central. Segundo o calendário das chuvas do Ceará,
divulgado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme),
choveu hoje em 96 dos 184 municípios do estado. Para ele e tantos outros dos 30
profetas reunidos no encontro deste ano, a chuva dos últimos dias mostra que o
“inverno” já chegou no Ceará.
No entanto, não é essa a opinião de outros profetas da
chuva. João Américo da Costa, de 88 anos , mostra num banner fotos de um
formigueiro no leito de um rio seco e a pouca floração do juazeiro. “Já está
com três anos que esse formigueiro aparece na barreira do rio e nunca se acaba.
A previsão é para um inverno muito fraco.”
Enquanto o profeta Antônio Lima se alegra ao olhar o céu
nublado, Paulo Costa de Oliveira, de 70 anos, enxerga além das nuvens e diz:
“não teremos inverno, teremos chuvas isoladas e localizadas”. Ele conta que
observou o céu em setembro, na chamada Vigília de Noé, em que se considera a
posição dos ventos, dos astros e a corrente de ar. “Este ano, por causa da Zona
de Convergência Tropical, bolhas de ar quente que ficam no infinito, a frente
fria não passa. Quando essas bolhas desaparecerem é que vai chover no
Nordeste.”
A população do Ceará aguarda uma boa quadra chuvosa há, pelo
menos, cinco anos. O ano de 2015 foi considerado pela Funceme o quarto ano de
seca seguida no estado. A fundação ainda não apresentou o prognóstico dos meses
de fevereiro a maio, mas verificou ainda no ano passado que o fenômeno El Niño,
caracterizado pelo aquecimento anormal no Oceano Pacífico Equatorial, poderia
afetar de forma negativa o regime de chuvas em 2016.
A agricultura e a pecuária também esperam pelas chuvas. Em
Riacho Verde, distrito de Quixadá, a chuva de 15 milímetros aferida pela
Associação dos Agricultores animou a população. “Tem cantos em que a gente já
pode até passar o trator para arar a terra”, afirma o presidente da associação,
Francisco Rodrigues.
José Andrade, secretário da Agricultura de Capistrano,
município a 113 de Fortaleza, foi a Quixadá em busca de informações dos
profetas da chuva para levar à sua região, uma vez que os agricultores
consideram tais previsões para planejar o plantio.
“Eles acreditam mais nessa experiência que a natureza
oferece do que no que os estudos meteorológicos apontam, pois cresceram
acompanhando as experiências que os pais deles faziam.” O secretário, porém,
diz que fica no meio-termo. “Não é que as experiências dos profetas da chuva
sejam enganosas, mas, em algumas coisas, a natureza já não responde mais como
antigamente. Acredito que essa quadra chuvosa não será seca como aponta a
Funceme. No entanto, também não será um inverno tão grande.”
agencia brasil
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