Os números foram divulgados pela plataforma IntegraSUS. Especialistas atribuem aumento a maior número de testes e ao relaxamento nas medidas de proteção sanitária.
Por G1 CE
Nas duas últimas semanas de outubro, Fortaleza voltou a
ultrapassar a marca de mil casos confirmados da Covid-19, de acordo com dados
da plataforma IntegraSUS, mantida pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa),
colhidos na tarde dessa sexta-feira (6). Entre março e julho, a capital passou
17 semanas registrando mais de mil casos de Covid-19 a cada semana
epidemiológica. Com a desaceleração da pandemia, o período foi seguido por 14
semanas abaixo desse indicador, da metade de julho à metade de outubro.
Bairros Vila Velha, Presidente Kennedy, Aldeota e Messejana,
em Fortaleza, concentraram as mortes por Covid-19 nos últimos 20 dias
Ceará tem aumento de casos de Covid-19 em mais áreas de
saúde
Já no intervalo entre 18 e 24 de outubro, que marca a semana
epidemiológica 43, a cidade registrou 1.007 diagnósticos positivos. Esse
período reflete a quarta semana consecutiva de aumento em Fortaleza, verificada
desde a semana epidemiológica 40, que começou em 29 de setembro. Na semana
seguinte, de 25 a 31 de outubro, foram registrados 1.043 novos casos. Os
montantes, porém, ainda podem mudar a partir da liberação e inclusão de novos
resultados de exames.
Desde o início de outubro, boletins da Secretaria Municipal
da Saúde (SMS) alertam para uma maior circulação viral na cidade. Entre os dias
16 e 30 de outubro, a proporção de positividade das amostras RT-PCR - o teste
“padrão ouro” para detecção - de residentes de Fortaleza analisadas pelo
Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen-CE) foi de 13,2%.
Mutações
Segundo o biomédico e virologista Mário Oliveira, o
potencial de transmissão do coronavírus é “altíssimo” mesmo depois de oito
meses de pandemia no Ceará pela quantidade de mutações que normalmente ele
sofre. “Os coronavírus em geral são altamente mutáveis, até 20 vezes mais que o
comum. Em algum momento, ele pode não ter adaptação e ficar inerte. Mas alguns
ficam mais fortes, transmitem mais rápido e conseguem ultrapassar barreiras
mais fácil”, explica.
Na observação do especialista, o desrespeito às medidas
sanitárias, como o uso de máscara, contribui para o novo avanço da
contaminação. O número também pode ser atribuído, aponta, à maior testagem
realizada pelas autoridades de saúde. “Por enquanto, as instituições estão mais
ligadas em fazer o diagnóstico. Consequentemente, quanto mais amostras chegam,
mais você tem o aumento de casos”, relaciona.
A epidemiologista Caroline Gurgel, professora da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), concorda com a análise. Ela
reforça que, com a flexibilização das atividades, parte das pessoas “relaxou
nos cuidados de si e dos outros”, a exemplo de festas clandestinas e praias
lotadas em feriados.
“Antes, a gente estava testando só pacientes graves, que
estavam internados. Como agora abrangeu-se mais, você vai encontrar o vírus
circulando nas demais faixas etárias. Enquanto tivermos pacientes suscetíveis,
independentemente da idade, teremos uma quantidade importante de casos”,
ressalta Gurgel.
Assistência
Além dos casos, a semana epidemiológica 43 também teve
aumento de mortes pela doença em relação às três semanas anteriores: foram dez,
contra a média de sete das demais. Contudo, o novo cenário não representou
impacto direto na letalidade da doença, que vem mantendo tendência de queda
desde o pico da pandemia na cidade, em maio.
Na última terça-feira (3), a SMS e a Sesa, em parceria com a
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), iniciaram a quarta fase da pesquisa de
soroprevalência da Covid-19 na capital cearense. Estão sendo realizados 3.300
testes, em 112 bairros das seis regionais de Fortaleza, para estimar o
percentual de pessoas que já desenvolveram anticorpos contra o Sars-Cov-2.
A epidemiologista Caroline Gurgel destaca ainda que não se
pode falar em imunidade de rebanho porque a última pesquisa de soroprevalência
da Prefeitura de Fortaleza mostrou apenas 14% dos residentes com presença de
anticorpos. “Mas eles não conferem uma imunização duradoura. Há estudos
mostrando que são três meses, outros falam de sete meses. Somente uma vacina
muito eficaz para a gente se sentir um pouco mais seguro”, afirma.
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