Os irmãos sofrem de uma doença renal progressiva, a
nefropatia diabética, e vieram de Manaus em busca de tratamento no Hospital
Walter Cantídio, da UFC.
Por G1 CE
Portadores de uma doença renal progressiva, os irmãos
Raimundo, de 57 anos, e Antônio Rodrigues de Abreu, de 51, receberam
transplante de rins de um mesmo doador, no mesmo dia. O fato é incomum, de
acordo com a médica Paula Fernandes, chefe da Unidade do Sistema Urinário do
Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
"Essa é uma situação muito rara no mundo e foi a
primeira vez que isso aconteceu no hospital. A equipe ficou bastante motivada
para que os dois pudessem ser operados no mesmo dia e torcendo para dar
certo", diz.
A seleção dos pacientes que vão receber transplante respeita
uma lista de espera e segue critérios de compatibilidade. Um deles é o antígeno
leucocitário humano (HLA). A chance de dois irmãos terem o HLA idêntico é de
25%, e esse foi o caso dos dois, que também eram compatíveis com o doador.
Qualquer célula exibindo algum tipo de antígeno leucocitário
humano que não parece próprio do indivíduo é percebido como um invasor pelo
sistema imunológico do corpo, resultando na rejeição do transplante do tecido
que possui essas células. Assim, verificar a compatibilidade HLA é essencial
para que um transplante de órgãos seja bem-sucedido.
'Parecia que tinha ganhado na loteria'
Os irmãos sofrem de uma doença renal progressiva, a
nefropatia diabética. Raimundo já se preparava para receber o transplante há
cinco anos, e Antônio, há quatro. Eles moravam em Manaus, em Amazonas, quando
receberam a notícia da necessidade do transplante. Há um ano vieram para Fortaleza
em busca de oportunidade em realizar o procedimento.
Às 2h30 do dia 23 de maio deste ano, Raimundo recebeu uma
ligação do hospital comunicando que um doador compatível havia aparecido e que
ele era o próximo na fila de espera. Algumas horas depois, o irmão, Antônio,
recebeu ligação semelhante.
“Eu conheço pessoas que foram chamadas 24 vezes e não
estavam preparadas. Não fiquei muito confiante. A ficha não caiu. Não
acreditei”, diz Antônio.
Após fazer os exames, Antônio foi o primeiro a ser
encaminhado para a cirurgia. Algumas horas depois, foi a vez de Raimundo.
Cirurgias bem-sucedidas, os dois dividiram também o quarto no período de
recuperação.
“Depois que eu acordei da cirurgia, senti aquela felicidade,
aquela alegria, aquela vontade de chorar. Parecia que eu tinha ganhado na
loteria”, resume Antônio.
Oito dias depois, os irmãos receberam alta hospitalar. Os
dois têm planos de voltar a Manaus para reencontrar o restante da família,
quando estiverem completamente recuperados e receberem a autorização para isso.
“Eu só faço o que o médico manda”, diz Raimundo. Os irmãos também têm planos de
viajar pelo Brasil e para o exterior.
Transplantes
De acordo com a chefe da Unidade do Sistema Urinário do
Hospital Universitário Walter Cantídio, desde o primeiro procedimento,
realizado em agosto de 1977, já foram realizados 1.556 transplantes renais no
HUWC. Apenas entre janeiro e maio de 2018, foram 47 procedimentos. O paciente
mais antigo tem 40 anos de transplante.
No Hospital Walter Cantídio, a taxa de doação dos pacientes
que estão em morte cerebral é acima de 70%. E a taxa de sobrevida no primeiro
ano após o transplante supera 95%.
Segundo levantamento da Central de Transplantes do Estado,
em 2018 (até 8 de junho), o Ceará já contabiliza 565 transplantes realizados,
sendo 327 de córnea, 111 de fígado, 104 de rim, 43 de medula óssea, 13 de
coração e dois de pulmão.
UFC
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