Pesquisadores cearenses devem investigar, nos próximos três
anos, tratamentos para dores crônicas decorrentes da doença e o comportamento
regional do vírus.
Por Nícolas Paulino, G1 CE
De janeiro a 8 de junho deste ano, apenas 122 casos de
chikungunya foram confirmados em Fortaleza. O dado representa queda de 99,8% em
relação aos 54.582 casos registrados no mesmo período de 2017, quando a cidade
viveu uma epidemia da doença. Em comparação ao intervalo do ano passado, são
73,7% de confirmações a menos. “Os números correspondentes a 2019 ainda podem
sofrer alterações, mas indicam um cenário de baixa transmissão”, afirma o
boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Os primeiros oito casos de chikungunya confirmados em
residentes de Fortaleza foram registrados em 2014; no entanto, investigações
mais profundas apontaram se tratar de casos importados. Já casos autóctones
(adquiridos na própria localidade) foram confirmados somente em dezembro de
2015. Em seis anos, a doença foi responsável por 80.357 casos e 170 óbitos na
cidade. Só em 2017, foram 61.727 casos e 144 óbitos.
Com sintomas similares a outras doenças, como a dengue e a
zika, a chikungunya tem como característica mais marcante as dores intensas nas
articulações. Em alguns casos, a dor pode se tornar crônica, podendo durar até
três anos, segundo especialistas.
Por ser recente em território brasileiro, a enfermidade
ainda gera dúvidas até entre estudiosos. Para ter subsídios do comportamento da
doença no país, diversas hipóteses de pesquisa serão testadas, nos próximos
três anos, por meio da Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya
(Replick), que integra 25 instituições de ensino de nove Estados.
Terapia que reduz a dor
No Ceará, as pesquisas vão incorporar um tipo de acupuntura
na orelha que melhora a mobilidade e a resposta à dor em 50% no acompanhamento
de novos casos de chikungunya. O tratamento consiste em sessões de 15 minutos
uma vez por semana, durante cinco semanas, utilizando apenas álcool, algodão,
esparadrapo e sementes de mostarda (substituindo as agulhas).
“Pessoas que demoravam até 14 segundos para percorrer três
metros baixaram o tempo para nove segundos, considerado o padrão normal numa
população saudável”, descreve o professor Bernardo Coutinho, coordenador do
Grupo de Atenção Integral e Pesquisa em Acupuntura e Medicina Tradicional
Chinesa da Universidade Federal do Ceará (Gaipa/UFC), que desenvolveu os
estudos de auriculoterapia.
Redução da chikungunya em Fortaleza
Mês/Ano 2017 2018 2019
Janeiro 427 118 25
Fevereiro 1.214 93 18
Março 9.124 107 22
Abril 23.355 100 45
Maio 20.462 46 12
Total 54.582 464 122
Fonte: SMS
Durante dois anos, foram realizados dois mil atendimentos
num posto de saúde do Bairro Rodolfo Teófilo, em Fortaleza. A maioria dos
pacientes era mulher (90%), com média de 59 anos, em sobrepeso e relatando
sintomas da chikungunya há 200 dias. Por conta das dores, os acometidos
apresentavam queixas de insônia, esgotamento físico, estresse, ansiedade e
angústia.
Comportamento da doença
Para Luciano Pamplona, professor do Departamento de Saúde
Comunitária da UFC e coordenador da Replick no Estado, ainda há muitas dúvidas
sobre a doença que podem ser supridas com as investigações. “A ideia é
reescrever a história natural da doença. Queremos saber como ela se comporta na
população acompanhando pacientes desde os primeiros sintomas”, explica.
Outras avaliações devem apontar que medicamentos prescrever
dependendo de comorbidades do paciente (como diabetes), a influência da
regionalidade no comportamento do vírus e a taxa de cronificação da doença.
Hoje, a literatura científica menciona de 30% a 70% - um hiato grande, na
opinião de Pamplona. Por enquanto, nem há vacinas e nem medicamentos efetivos
contra a doença. A única forma de prevenção é eliminar possíveis criadouros do
mosquito.
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