Apenas as ocorrências mais graves e os óbitos pela doença
são notificados. Secretarias municipal e estadual de Saúde não contabilizam
infecções.
Por G1 CE
A catapora (ou varicela) é doença comum durante a infância,
mas pode afetar adolescentes e adultos de forma mais comprometedora. Entre 2014
e 2018, o Ceará registrou 3.221 casos da virose, segundo o Ministério da Saúde
(MS). A pasta reforça que somente os óbitos e os casos graves da doença, que
exigem internação, têm notificação compulsória, obrigatória pelas unidades de
saúde.
Apesar da grande incidência, a doença tem retrocedido. Em
2014, foram 805 casos no Estado, número que reduziu para 69 em 2018, queda de
91%. O ministério não informou os dados referentes à capital nem ao ano de
2019, e as secretarias municipal e estadual de Saúde não contabilizam as
ocorrências da infecção, sob a justificativa de não ser de notificação
compulsória.
Entre 2012 e 2017, o Nordeste teve cerca de 88 mil casos de
catapora. Naquele ano, mais de 23 mil pessoas foram infectadas na região,
número que caiu para 2.744 em 2017.
A faixa etária com a maior incidência de casos notificados
em todo o Brasil foi de 1 a 4 anos, com 227.660; seguida por 5 a 9 anos, com
179.592. Pessoas maiores de 50 anos são as menos atingidas, totalizando 4.081
casos em seis anos.
Prevenção
De acordo com a coordenadora de imunização da Secretaria
Municipal de Saúde (SMS), Vanessa Soldatelli, a vacinação é a forma mais eficaz
de prevenir o contágio. A primeira dose, explica, deve ser tomada por bebês de
15 meses, e a segunda, por crianças de 4 a 6 anos. Para esta segunda faixa, a
dose entrou no calendário de vacinação obrigatória apenas em 2018, o que expôs
boa parte da população ao vírus.
“Muitas crianças tomavam uma dose no posto de saúde e a
segunda em clínica particular, outras não tinham condições. Até 2018, muitas
ficaram vulneráveis. Inclusive, entre os infectados de hoje pode haver
adolescentes que foram vacinados na infância. A vacinação não quer dizer que
nunca vá ter a doença, mas dificulta a infecção e a torna bem mais amena, sendo
indispensável”, alerta a coordenadora.
A contadora Kilvia Carvalho, 34 anos, enfrenta as
consequências da não imunização: neste ano, os dois filhos dela – Davi, 14, e
Gabriel, 8 – foram infectados pela varicela.
“O mais velho pegou dois dias depois que voltou de uma
viagem a São Paulo, suspeito que tenha relação. Começou com febre, dor de
cabeça, e no terceiro dia apareceram as bolhas pelo corpo. Tá com mais ou menos
20 dias, isso, mas já cicatrizando”, relata.
Nenhuma das crianças foi vacinada contra a doença, já que,
quando estavam dentro da faixa etária, a vacina ainda não era fornecida pelo
Sistema Único de Saúde. “Fiquei sabendo que a vacina, devido à idade, só era
dada pela rede particular. Pela falta de conhecimento, acabaram não sendo
vacinados na época. Eu acreditava que o SUS (Sistema Único de Saúde) englobava
as vacinas, mas não”, lamenta Kilvia.
Vacina
Atualmente, o preço médio da tetraviral, para crianças e
adolescentes menores de 12 anos, é de R$ 310 em clínicas de Fortaleza. Já a
imunização contra varicela, para maiores de um ano, é de R$ 180. Na rede
pública, as doses estão disponíveis em todos os postos de saúde diariamente. De
acordo com o MS, foram repassadas ao Ceará, neste ano, 40 mil doses contra
varicela e 80 mil doses de vacina tetraviral.
Na capital cearense, até maio deste ano, a cobertura vacinal
(CV) contra varicela já totaliza 90%, de acordo com a Secretaria Estadual da
Saúde (Sesa), número superior aos 89% de CV registrados em 2018. Nos 184
municípios, 75% das crianças estão imunizadas contra a virose – ano passado,
foram 89%.
Segundo Vanessa Soldatelli, Fortaleza tem, geralmente, dois
surtos por ano: um em março e outro entre agosto e setembro. “Podem ser por
conta do vento e de fatores climáticos. Mas durante todo o ano, sempre tem
casos. Há também os surtos institucionais: uma criança vai à escola com a
doença e outras pegam, ou uma criança internada tem catapora, aparece outra no
hospital e bloqueamos o contato”, pontua.
Mesmo que catapora só se pegue uma vez na vida, é arriscado
entrar em contato com alguém que esteja com a doença. “Quando se tem contato
novamente com o vírus, o adulto pode desenvolver Herpes zóster, que é causada
pelo mesmo agente da catapora, mas é bem mais grave.
Mas isso depende do organismo da pessoa”, afirma. A
imunização contra herpes-zóster custa, em média, R$ 550 em clínicas
particulares.
Campanha
De 05 a 23 de agosto deste ano, o Ministério da Saúde
promove a Campanha Nacional de Multivacinação, com a finalidade de atualizar a
situação vacinal da população de crianças até nove anos. A vacina contra
varicela, informa a Sesa, está inclusa, já que faz parte da rotina do
Calendário Nacional de Vacinação da Criança.
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