terça-feira, 30 de abril de 2019

Alunos de escola pública em Fortaleza reutilizam materiais recicláveis para criar quadros e robôs


O laboratório de robótica na escola surgiu em 2016. Com o resto do material descartado na produção dos robôs e protótipos, os alunos perceberam que poderiam aprimorar também o conhecimento e a produção de artes.
Por Samuel Pinusa, G1 CE


Alunos da Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Dom Hélder Câmara (DHC), no Bairro Quintino Cunha, em Fortaleza, estão dando exemplo de como “reaproveitar o reutilizado”. Um laboratório de artes surgiu dentro do espaço que era dedicado apenas à ciência, onde os estudantes trabalham robótica com materiais recicláveis descartados pela comunidade ao redor da instituição. Hoje, o papelão, o plástico, a madeira que viravam robôs e protótipos viram quadros e esculturas.

O projeto, batizado de “Arte Sustentável”, dá espaço para que alunos aprimorem o conhecimento artístico, criando peças e produtos que servem de decoração para a escola — mas eles também sorteiam algumas peças à comunidade através de redes sociais. O “laboratório de artes” se consolidou em 2018 e alguns produtos criados já fizeram parte de uma exposição em um grande shopping de Fortaleza.

“Eles (os alunos) observaram que mesmo depois da produção do material da robótica, ainda havia muita sobra, principalmente de papelão, de madeira, algumas peças grandes de carcaça de computador, impressoras. Aí o professor André, junto com os meninos, tiveram a ideia de reaproveitar as sobras”, explica o diretor da escola, David Pereira.

“Alguns alunos começaram a pegar os materiais e trabalhá-los de forma artística. Pegaram chapas de metais e pintavam, escreviam, desenhavam; pegaram papelão e começaram a fazer quadros. Vendo esse potencial, eu comecei a investir na parte artística”, complementa o professor André Cardoso, que está à frente do laboratório de artes e de ciências.

Algumas obras que eles produziram com o material descartado — Foto: JL Rosa Algumas obras que eles produziram com o material descartado — Foto: JL Rosa
Algumas obras que eles produziram com o material descartado — Foto: JL Rosa


Os alunos participam desse projeto no contraturno das aulas. Essa estratégia serve para complementar o ensino artístico trabalhado em sala de aula, resumido a apenas 50 minutos semanais. “A gente trabalha com diversas técnicas artísticas: sombreamento, sobreposição, figurativa, entre outras”, complementa André.

Dificuldade no ensino
Ainda há bastante o que se progredir na educação como um todo, mas o caminho para disciplinas como artes é ainda mais conturbado, de acordo com Gerardo Viana, doutor em Educação Brasileira e coordenador do curso de Música da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“A arte acaba tendo um espaço muito pequeno porque as pessoas acham que não é muito importante, que não é útil, ou não enxergam essa questão da formação como uma possibilidade da arte contribuir com outras disciplinas. Elas tem que entender que através da arte, a pessoa pode desenvolver outras habilidades, como memória, capacidade de raciocínio, abstração que são extremamente úteis em outras áreas”, comenta o docente.

A matéria de artes “no ensino médio, propicia a formação estética e o desenvolvimento cultural, por meio das diversas linguagens: artes visuais, cênicas, música, dança e outros, contribuindo para a construção de conhecimentos, de expressão e comunicação”, elucida a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc).

“O programa pedagógico da disciplina de artes é elaborado a partir de uma Proposta de Organização curricular para o Ensino Médio do Estado do Ceará, pautada nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) e cada escola define o que vai estudar. De acordo com a legislação nacional vigente, a disciplina de artes é obrigatória, mas não ficou determinada a carga horária”, complementa a Secretaria. Atualmente, o Ceará possui 522 professores efetivos lotados em artes para suprir as demandas de 725 escolas.

Iane Nobre, coordenadora de gestão pedagógica da da Seduc, explica que os professores podem dar aulas em mais de uma escola, para compensar a discrepância entre a quantidade de profissionais e de instituições.


“Eles são contratados pela carga horária. Quando um professor entra como efetivo, ele trabalha 40 horas semanais. Desse total, um terço, que corresponde a 13 horas, é de ‘hora-atividade’ que é o que a gente chama de planejamento. As outras 27 horas, eles têm que estar em sala de aula”. Atualmente, uma ‘hora-aula’ corresponde a 50 minutos.

“Você não consegue criar um vínculo com a turma. Imagine um professor que trabalha com 20 turmas ou 30 turmas por semana, cada uma com 30 alunos. É um total de 600 a 900 alunos que o professor tem contato em uma semana. Como você consegue, em um espaço de 50 minutos, criar um vínculo com uma quantidade tão grande de estudantes?”, questiona Gerardo Viana.

O doutor em educação ainda comenta que outro problema é que as pessoas ainda ligam a educação à uma visão “muito utilitarista”. “Pensa-se muito a educação como apenas uma maneira de conseguir uma formação profissional, um emprego. Não que isso não seja importante, pelo contrário, é muito importante. Mas a gente deve entender que a educação deve preparar as pessoas para viver em sociedade”, complementa Gerardo.


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