Técnica é utilizada em mulheres portadoras da Síndrome de
Rokitansky, que torna canal vaginal curto ou ausente.
Por G1 CE
Procedimento inédito no mundo com a utilização da pele de
tilápia é realizado no Ceará para construção do canal vaginal em mulheres
portadoras da síndrome de Rokitansky, também conhecida como agenesia vaginal. A
síndrome, que acomete uma a cada cinco mil mulheres, provoca alterações no
útero e na vagina, tornando o canal vaginal muito curto ou até mesmo ausente.
A técnica, idealizada pelo médico Leonardo Bezerra,
professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) consiste na construção do
canal vaginal usando a pele de tilápia.
"A cirurgia é realizada abrindo um espaço entre a
vagina e o ânus e forrando-o com a pele de tilápia. Após o procedimento, é
colocado um molde com um formato de vagina, deixando o espaço aberto e
impedindo que as paredes da 'nova vagina' se juntem novamente", explica o
médico.
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tratamento médico
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pacientes no CE
Ele explica que, diferentemente do uso da pele da tilápia no
tratamento de queimaduras, em que o material ela é colocado como curativo e
depois retirada, no caso da agenesia vaginal a pele da tilápia é absorvida e se
transforma em tecido.
"A partir desse procedimento, as células dos tecidos da
paciente em contato com as células e fatores de crescimento liberados pela pele
de tilápia se transformam, como as células-tronco, formando, assim, um tecido
com células iguais à de uma vagina real. Finalmente, ocorre a total
incorporação e biocompatibilidade da pele de tilápia", explica.
Pele de tilápia sendo preparada no intraoperatório (Foto:
Leonardo Bezerra/Arquivo pessoal) Pele de tilápia sendo preparada no intraoperatório
(Foto: Leonardo Bezerra/Arquivo pessoal)
Pele de tilápia sendo preparada no intraoperatório (Foto:
Leonardo Bezerra/Arquivo pessoal)
Segundo o idealizador da técnica, o procedimento cirúrgico é
minimamente invasivo, recuperação sem complicações e ausência de cicatrizes
visíveis, sem risco de rejeição e nem de infecções por vírus.
Além disso, não nascem pelos no interior da vagina criada,
diferentemente do que poderia ocorrer com a utilização de pele da virilha no
processo de criação da vagina pelo método tradicional.
Vida sexual saudável
O médico explica ainda que após o período de recuperação a
mulher poderá ter uma vida sexual saudável, mesmo sem ter útero, conforme o
caso de cada paciente.
"As duas pacientes que passaram pelo procedimento há
seis meses ainda não tiveram atividade sexual, mas os exames clínicos mostram
que a anatomia e a morfologia das células da nova vagina são iguais a uma
cavidade vaginal normal."
A cirurgia clássica de reversão da síndrome de Rokitansky,
utilizada há mais de 20 anos, reconstrói o canal vaginal com uso de enxertos de
pele da virilha da própria paciente. Nesse caso, a mulher também precisa passar
pela recuperação de uma incisão.
"É um processo demorado, doloroso e estigmatizante,
deixando cicatrizes e risco de pelos incômodos no tecido vaginal
reconstruído", explica o médico Leonardo Bezerra.
Duas pacientes passaram pelo procedimento para a correção na
Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), da UFC, em 2017. A cada ano,
cerca de cinco procedimentos de correção da síndrome têm sido executados
somente na MEAC, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Pesquisas
As pesquisas mostraram que pele da tilápia contém uma grande
quantidade de colágeno tipo 1, que a torna tão forte e resistente quanto a pele
humana.
Para ser utilizada – tanto no tratamento de queimados,
quanto na correção da agenesia vaginal – a pele da tilápia passa por um
tratamento especial de limpeza e esterilização, feitas nos laboratórios da UFC.
Para o uso na cirurgia ginecológica, o couro também é
retirado e a pele da tilápia se transforma em uma espécie de gel denso, de cor
clara, que se incorpora à pele do paciente.
A pesquisa ainda está em caráter clínico-experimental e é
executada por uma equipe multidisciplinar da Maternidade Escola Assis
Chateaubriand e do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos.
Médicos Zenilda Bruno, Edmar Maciel e Leonardo Bezerra na
primeira cirurgia de construção vaginal na Maternidade-Escola (Foto: Leonardo
Bezerra/Arquivo pessoal) Médicos Zenilda Bruno, Edmar Maciel e Leonardo Bezerra
na primeira cirurgia de construção vaginal na Maternidade-Escola (Foto:
Leonardo Bezerra/Arquivo pessoal)
Médicos Zenilda Bruno, Edmar Maciel e Leonardo Bezerra na
primeira cirurgia de construção vaginal na Maternidade-Escola (Foto: Leonardo
Bezerra/Arquivo pessoal)
O trabalho é acompanhado e desenvolvido com pacientes do
Ambulatório de Adolescente da MEAC, coordenado pela médica Zenilda Bruno. A
parte experimental da pesquisa e o processamento da pele de tilápia é realizada
no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos, coordenado pelo
professor Manoel Odorico Moraes, da UFC.
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